Megum Yokota, 1977
Meses antes de ser raptada
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N’O Dossier,
Timothy Garton Ash conta uma história extraordinária. Infelizmente, menos
extraordinária do que parece. Quando estava em Berlim-Leste, conheceu um jovem
de 22 anos. Os seus pais viviam no lado ocidental, ele estava ali, bebendo em
bares decrépitos. Porquê? Na noite em que o Muro foi erguido, o rapaz, na
altura com 3 anos, estava, por acaso, a dormir na casa dos avós, na parte Leste da cidade. As
autoridades da República Democrática Alemã não o autorizaram a regressar a casa
dos seus pais. Depois, foi entregue a uma família de acolhimento. Por vezes, o
pai podia vir de Oeste e visitava-o. Imagine-se o que é uma família ficar
separada de uma noite para a outra. Que terão sentido a mãe e o pai quando,
numa noite súbita, perderam o seu filho? E para este, sabendo que os seus pais
estavam vivos? Para mais, estavam vivos e ali ao lado,
à distância de poucos metros ou quilómetros.
Esta não é uma história isolada, o
caso único de uma família que repentinamente se estilhaçou. Calcula-se que, em
Agosto de 1961, quando o Muro foi erguido, 4.000 crianças foram separadas dos
pais. Um relatório confidencial, que Timothy Garton Ash encontrou nos arquivos
de Willy Brandt, afirmava que, em 1972, a RDA ainda detinha 1.000 crianças em seu
poder.
Pois bem: recentemente, a Comissão dos
Direitos Humanos das Nações Unidas denunciou, num relatório, várias atrocidades
cometidas pela Coreia do Norte. Entre essas atrocidades, o rapto de crianças e
jovens. Como aquela rapariga, ali em cima: Megum Yokota, desaparecida aos 13 anos de
idade, quando regressava a casa da escola, em Niigata, no Noroeste do Japão. A
Coreia do Norte assegura que ela se suicidou em 1994, entregando as suas cinzas
ao Japão. Aí, os exames forenses demonstraram que o ADN era de outra pessoa.
Que é feito de Megum Yokota? O insuspeito El País publicou uma reportagem sobre as vidas roubadas pela Coreia do Norte.
Há dias, em finais de Fevereiro deste ano, o Partido Comunista Português votou contra uma deliberação da
Assembleia da República que condenava os crimes norte-coreanos e que se baseava
no referido relatório. «Trata-se de um relatório elaborado a partir de quatro audições realizadas em Seoul, Tóquio, Londres e Washington, que se insere em campanha de permanente tensão e conflito com vista à desestabilização da península coreana e à justificação da presença militar norte-americana nesta região», defendeu o PCP.
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