terça-feira, 25 de março de 2014

Megum Yokota, entre outros milhões.

 
 
 
Megum Yokota, 1977
Meses antes de ser raptada
 
 
 
N’O Dossier, Timothy Garton Ash conta uma história extraordinária. Infelizmente, menos extraordinária do que parece. Quando estava em Berlim-Leste, conheceu um jovem de 22 anos. Os seus pais viviam no lado ocidental, ele estava ali, bebendo em bares decrépitos. Porquê? Na noite em que o Muro foi erguido, o rapaz, na altura com 3 anos, estava, por acaso, a dormir na casa dos avós, na parte Leste da cidade. As autoridades da República Democrática Alemã não o autorizaram a regressar a casa dos seus pais. Depois, foi entregue a uma família de acolhimento. Por vezes, o pai podia vir de Oeste e visitava-o. Imagine-se o que é uma família ficar separada de uma noite para a outra. Que terão sentido a mãe e o pai quando, numa noite súbita, perderam o seu filho? E para este, sabendo que os seus pais estavam vivos? Para mais, estavam vivos e ali ao lado, à distância de poucos metros ou quilómetros.
         Esta não é uma história isolada, o caso único de uma família que repentinamente se estilhaçou. Calcula-se que, em Agosto de 1961, quando o Muro foi erguido, 4.000 crianças foram separadas dos pais. Um relatório confidencial, que Timothy Garton Ash encontrou nos arquivos de Willy Brandt, afirmava que, em 1972, a RDA ainda detinha 1.000 crianças em seu poder.
         Pois bem: recentemente, a Comissão dos Direitos Humanos das Nações Unidas denunciou, num relatório, várias atrocidades cometidas pela Coreia do Norte. Entre essas atrocidades, o rapto de crianças e jovens. Como aquela rapariga, ali em cima: Megum Yokota, desaparecida aos 13 anos de idade, quando regressava a casa da escola, em Niigata, no Noroeste do Japão. A Coreia do Norte assegura que ela se suicidou em 1994, entregando as suas cinzas ao Japão. Aí, os exames forenses demonstraram que o ADN era de outra pessoa. Que é feito de Megum Yokota? O insuspeito El País publicou uma reportagem sobre as vidas roubadas pela Coreia do Norte. Há dias, em finais de Fevereiro deste ano, o Partido Comunista Português votou contra uma deliberação da Assembleia da República que condenava os crimes norte-coreanos e que se baseava no referido relatório.   «Trata-se de um relatório elaborado a partir de quatro audições realizadas em Seoul, Tóquio, Londres e Washington, que se insere em campanha de permanente tensão e conflito com vista à desestabilização da península coreana e à justificação da presença militar norte-americana nesta região», defendeu o PCP.






Sem comentários:

Enviar um comentário