Edward Hopper, Rooms by the Sea, 1951
|
Na vida as
coisas não são branco ou preto, como as gentes da política querem pintá-las.
Esquerda e direita eram. Foram. Tudo hoje é mais complexo.
Falo de
António Quadros para contar uma história dele que teve belas repercussões,
independentemente de ele ser de direita ou esquerda. Ou de eu não gostar da
leitura nacionalista que ele faz de Pessoa.
Um dia, na
praia de Sesimbra, um americano estava estendido na areia ao lado de um casal
português. O homem lia um livro. O americano, curioso, meteu conversa. Que
livro era aquele? Era de um tal Fernando Pessoa. E o seu leitor chamava-se
António Quadros.
Conversa
puxa conversa, o americano, que nunca ouvira falar de Pessoa, ficou cativado e
quis saber e ler mais e mais. Já sabia espanhol muito bem. Era autor de
traduções, muito conhecidas nos EUA, de Cervantes, Calderón de la Barca, F.
Garcia Lorca e Lope de Vega. Tinha o nome de Edwin Honig. Era também poeta e
professor no Departamento de Inglês da Brown, colega do George Monteiro.
O encontro
levou Honig a interessar-se por Pessoa e, mais tarde, a ser o primeiro tradutor
de Pessoa para inglês, em 1971.
Vários anos
depois, foi ele que me cedeu a sua correspondência com Thomas Merton. Sim, o
monge trapista que líamos nos anos 60 no Seminário de Angra (A Montanha dos
Sete Patamares, em edição brasileira comprada no Sargento Ferreira, ao Alto das
Covas). Merton traduziu poemas de Caeiro ( "O Guardador de Rebanhos”), a
pedido de Suzuki, o introdutor de Zen no Ocidente. A história ainda mete o
poeta Octávio Paz, amigo de Honig.
Mas isso
tudo eu já contei num artigo – "Sobre a mundividência Zen de
Pessoa-Caeiro" –, publicado na Nova
Renascença, do saudoso José Augusto Seabra (estórias dele para outra
ocasião) e integrado no meu livro Pessoa,
Portugal e o Futuro, a sair por estes dias na Gradiva e que por isso não
vale a pena repetir aqui.
E tudo isto
por causa de um casual encontro de duas pessoas deitadas ao sol numa praia de
Sesimbra.
Não conheço
a Rita Ferro mas acho que ela havia de gostar de saber esta história.
Onésimo Teotónio de Almeida
Esteja descansado que eu transmito-lhe.
ResponderEliminar