Este vídeo da
Save the Children anda a causar furor no mundo, no mundo «civilizado», que o
outro não tem YouTube. No YouTube, já conta com quase 20 milhões de
visualizações. A apresentação do filme está aqui, dizendo-se que três anos de
guerra civil na Síria já custaram a vida a 11.000 crianças. Há um milhão de
crianças refugiadas. Mas, por mais que a estatística nos arrepie, este filme,
que segundo me parece representa o que seria o crescimento e o dia-a-dia de uma das «nossas»
crianças se vivesse na Síria, é o nos que causa mais incómodo e indignação. Como
se, para nos sentirmos sírios, necessitemos de ser figurados como «nós»,
ocidentais e caucasianos, vivendo nas nossas cidades, nas nossas escolas,
andando nas nossas ruas e saltando por parques relvados. Talvez isto seja a prova de que
perdemos o sentido da alteridade, a capacidade de nos colocarmos por inteiro na
posição do outro – e que só através da representação dos outros como «nós»
somos capazes de nos comover e impressionar. O mundo é um lugar estranho.
Caro António Araújo,
ResponderEliminarO filme parece-me óptimo (poderia ter ido mais longe); apenas me causa impressão o que ele revela sobre nós. É isso que causa repulsa. Mas não estamos tão fartos de ler e ouvir que colocar-nos no lugar do outro é "relativismo" e uma manifestação de "politicamente correcto"? Ora, pois então...
Isto tem muitas ramificações. Lembro-me de um texto de um scholar inglês, não sei já onde, que dizia compreender perfeitamente que as crianças palestinianas dos territórios ocupados crescessem a odiar os israelitas e americanos. Um europeu caucasiano normalmente não compreende isto. Quem fez o filme também não o entenderá, até porque a criança, mesmo desprovida de bem estar, parece não ter ainda perdido a inocência.
Pedro
Muito obrigado pelo seu comentário, Pedro.
EliminarCordialmente,
António Araújo