Começo
por propor que recuemos até ao dia 26 de Fevereiro de 2017 e que entremos nos
terrenos labirínticos da História Contrafactual, ou Alternativa, ou
Especulativa, ou Virtual, ou outro nome qualquer da sua preferência que
represente um afastamento da verdade dos factos. Imagine-se agora no Dolby
Theatre, em Hollywood, e faça de conta que La
La Land acaba de vencer os 14 óscares para que estava nomeado. Não vencer
sem ter vencido, como aconteceu com o prémio de Melhor Filme, mas vencer claramente
vencendo, como costumava acontecer nas edições anteriores. Eis o que, penso eu,
aconteceria de imediato: uma comunicação social em êxtase relatava o novo
recorde absoluto e a ultrapassagem efectuada a Ben-Hur (1959), Titanic
(1997) e O Senhor dos Anéis (2003),
detentores de 11 estatuetas cada. E eis o que, na minha opinião, passaria
despercebido: pela primeira vez na história um filme com argumento original
levava para casa o “quinteto mágico”, mais conhecido na sua terra como “The Big
Five”. E assim se desprezaria, inacreditavelmente, o mais extraordinário feito
da noite.
Regressemos
ao dia de hoje para analisar com mais cuidado o desdém nacional e internacional
a que este pentagrama da excelência é votado. Uma qualquer pesquisa no Google
através das suas designações, em português ou em inglês, devolve-nos os cinco
animais mais difíceis de caçar em África, vários quintetos futebolísticos
mundiais, importantes agremiações de fagotes, trompas, clarinetes, oboés e flautas,
e até uma paleta de sombras de olhos! Películas cinematográficas, o nome snob para filmes, é que nem vê-las. No
entanto, até hoje, apenas três fitas conquistaram este conjunto formado pelas
categorias de Melhor Filme, Melhor Realizador, Melhor Actriz, Melhor Actor e Melhor
Argumento (original ou adaptado).
(alerta:
com a utilização da palavra “fita” esgotei os sinónimos que conheço, pelo que,
a partir de agora, será sempre “filme” até ao fim.)
E
desses três protagonistas – Uma Noite
Aconteceu (1934); Voando sobre um
Ninho de Cucos (1975); O Silêncio dos
Inocentes (1991) –, nenhum se baseou num guião original: o primeiro foi
adaptado de um conto de 1933 e os outros dois de novels dos anos 60 e 80 (se uso “novel”
em vez do nosso “romance”, é por não conseguir dissociar o romance do
romântico, aplicando-o a todo e qualquer género narrativo em prosa, incluindo o
que se ocupa de enfermeiras sádicas e de lobotomias (no caso dos Cucos), ou de esfoladores de mulheres e
canibais (no caso dos Inocentes).
Nascido
em 1977, não tive oportunidade de assistir numa sala de cinema ao confronto
entre Louise Fletcher e Jack Nicholson, e muito menos à obra de Frank Capra,
ainda na era do preto e branco. Mas lembro-me muito bem do efeito que o filme
de Jonathan Demme teve no meu impressionável cérebro de adolescente. Fui vê-lo
duas vezes mediante pagamento de bilhete, aluguei-o no videoclube, gravei-o em
VHS quando passou na televisão e, com a cassete já visivelmente cansada de
tanta reprodução, comprei o DVD para continuar a orgia de visualizações. Sempre
achei piada a repetir os filmes de que gosto mas é possível que neste caso
tenha exagerado. Decorei diálogos, gastei o botão de pause para analisar fotogramas, e ainda hoje respondo “ready when
you are, Sergeant Pembry” à minha mulher quando ela me pergunta se estou pronto
para sair de casa. Como nunca mostrei vontade de lhe comer o fígado com favas e
Chianti, ela perdoa-me estes abusos de linguagem. Acredito que apenas John
Hinckley Jr., o homem que tentou assassinar o Presidente Reagan para chamar a
atenção de Jodie Foster, por quem tinha desenvolvido uma obsessão doentia, tenha
passado mais tempo a olhar para um ecrã preenchido com a imagem da actriz (o
episódio está envolto em lendas, mas é mais ou menos seguro que Hinckley se
sentou dezenas de vezes nas salas de cinema por onde passava Taxi Driver, filme que valeu a Foster,
então com 13 anos, a primeira nomeação para os prémios da Academia).
Numa
época em que Hollywood aposta no poder parolo-sedutor de Christian Grey e das
suas 50 sombras para preencher anualmente o imaginário do Dia dos Namorados, causa
algum espanto que os produtores de O
Silêncio dos Inocentes tenham escolhido precisamente o dia 14 de Fevereiro
de 1991 para apresentarem Buffalo Bill e Hannibal the Cannibal à sociedade.
Conseguimos facilmente imaginar os excelentes trocadilhos sobre quem vai comer
quem segredados à saída do cinema por casais de pombinhos apaixonados, mas a
verdade é que, apesar de toda a tensão erótica que existe entre a jovem
estagiária do FBI Clarice Starling e o muito experiente psiquiatra Dr. Lecter,
este não é certamente o típico filme dos programas de São Valentim.
A
ideia original era que fosse lançado no Outono de 1990, mas a distribuidora
Orion, apostada em promover Danças com
Lobos para os óscares desse ano, empurrou o thriller de Demme para o ano seguinte. Assim, o estrondoso sucesso
que este obteve na 64th Annual Academy Awards foi, a todos os títulos,
surpreendente. Em primeiro lugar, a cerimónia ocorreu no dia 30 de Março de
1992 (comemora hoje o 25º aniversário, o que significa que já não vou para novo),
quando já tinham passado mais de 13 meses desde a estreia do filme. Se
analisarmos a data de lançamento dos galardoados com a estatueta de melhor
filme, salta à vista a preponderância das chegadas ao grande ecrã durante a
segunda metade do ano, para não dizer durante o último trimestre. Entre 2000 e
2014, por exemplo, de acordo com um estudo que não foi feito por mim, mas sobre
o qual lanço a minha bênção e as minhas mãos de larápio, apenas 2% de todos os
nomeados para essa categoria tiveram a sua estreia nos meses de Janeiro,
Fevereiro e Março. Estamos a falar, para quem perceba pouco de matemática, de 2
filmes num universo de 100. Por outro lado, convém recordar que O Silêncio dos Inocentes foi, até hoje,
o filme mais assustador a ganhar esse óscar. Este facto, totalmente pessoal e
não sujeito a contraditório, é de realçar. Claro que também assusta que filmes
como Uma Mente Brilhante ou O Discurso do Rei tenham ganho essa
distinção, mas o susto que me interessa analisar agora é o que está relacionado
com o medo e com o suspense. Admito
que O Exorcista, um dos nomeados da
colheita de 1973, a ter ganho a 46ª edição dos prémios, poderia baralhar as
minhas certezas. Como não ganhou, o assunto está resolvido.
(se
o caríssimo leitor reparou que o número da cerimónia hollywoodesca d´O Silêncio dos Inocentes é o espelho do
número da cerimónia hollywoodesca d´O
Exorcista, sugiro que se vá tratar com urgência.)
É
bom não esquecer que o filme nos presenteou não com um, mas sim com dois
excelentes (no sentido de horríveis) vilões. E foi até injusto, dado o seu
desempenho, que Ted Levine não tivesse sido sequer nomeado para o óscar de
melhor actor secundário pelo seu brilhante (no sentido de asqueroso) Buffalo
Bill. Um homem que, entre outras coisas, prendeu os seus próprios genitais no
meio das pernas enquanto executava uma dança extravagante para uma câmara de
filmar, merecia esse reconhecimento.
Este
psicopata, fruto de um cozinhado de vários serial
killers reais e temperado com uma androginia à la David Bowie, é, na realidade, o verdadeiro monstro que debutou
na sétima arte nos braços de Jonathan Demme. Hannibal Lecter, pelo contrário,
já tinha “dançado” com o realizador Michael Mann em Manhunter (1986), embora, nessa altura, respondesse pelo nome de Lecktor.
O actor escocês Brian Cox, então com 40 anos, foi por isso o primeiro a dar
vida ao nosso canibal preferido, 5 anos antes do também cidadão britânico (natural
do País de Gales) Anthony Hopkins. Como Manhunter
foi um fracasso de bilheteira (os seus méritos só começaram a ser reconhecidos
muito tempo depois da estreia), Demme e Hopkins puderam trabalhar o personagem como
se fosse completamente novo.
O
impacto que o filme de 1991 provocou, além de ter tido reflexo nos sempre polémicos
óscares, também alterou o paradigma do suspense
(“alteração do paradigma” é conversa de Prós
e Contras, mas não deu para resistir), desencadeando uma nova onda viral de
fascínio pelos cérebros dos serial
killers. Não tendo nascido a tempo de assistir numa sala escura aos filmes
de Alfred Hitchcock, sinto-me grato por ter conseguido ver O Silêncio dos Inocentes (ou o Seven
de David Fincher, um outro exemplar de suspense
de alta qualidade) no grande ecrã. Os magníficos close-ups, que agigantam a face de Lecter até ao ponto em que a sua
testa e queixo já não cabem na tela, não assustam o suficiente numa televisão
caseira. Jack Crawford, o responsável pela Unidade de Ciências do Comportamento
do FBI (“unidade de ciências do mau comportamento” seria um nome mais honesto
para o departamento em causa), avisa a sua protegida Clarice Starling do perigo
que Hannibal Lecter representa. “Acredite em mim, você não quer ter o Hannibal
Lecter dentro da sua cabeça”, é a frase que lhe dirige ao fim de cinco minutos
de conversa, mas o realizador Jonathan Demme e o director de fotografia Tak
Fujimoto asseguram, durante o resto do filme, que ele nunca mais sai da nossa.
Uma
daquelas histórias que correm na internet conta que, quando perguntaram a Paul
Thomas Anderson (o responsável, entre outros, por Magnolia e There Will Be
Blood) quais eram os três realizadores que o tinham influenciado mais, ele
terá dito “Jonathan Demme, Jonathan Demme, and Jonathan Demme”. A resposta
estava naturalmente relacionada com os close-ups
d´ O Silêncio dos Inocentes.
O
filme mostra-nos ao que vem desde os créditos de abertura. Enquanto desfilam
pelo ecrã os nomes dos actores, produtores, argumentista, etc., acompanhamos
uma jovem Jodie Foster a correr num bosque de forma desaustinada. Sabendo o
espectador que se trata de um filme que envolve psicopatas, é inevitável que
pensemos que a actriz está a fugir de um. Só quando ela passa por cima de um
grande obstáculo em vez de o contornar é que a ansiedade acalma e percebemos
que se trata simplesmente de uma pista de treino. Durante o resto do filme – e
muito graças à música de Howard Shore e aos múltiplos ruídos que a equipa de
som desenvolve – a plateia é muitas vezes mergulhada na aflição e grande parte
do tempo é passado com o coração nas mãos.
O
enredo conta-se em poucas linhas. Há um serial
killer a monte (usando a terminologia da nossa GNR), que ocupa o seu tempo
a raptar, assassinar e esfolar gordinhas; há um outro serial killer, famoso pelos seus hábitos alimentares, que se
encontra devidamente enjaulado; e há uma agente estagiária do FBI, de aparente
fragilidade, que vai tentar usar a inteligência deste último para capturar o
primeiro. O resto são mind games de
fazer inveja a José Mourinho, uma fuga de fazer inveja a Fátima Felgueiras e
alguns anagramas de fazer inveja a Rogério Casanova.
A
figura de Lecter é-nos servida em formato de duche escocês, submetendo-nos a contrastes
sucessivos. Antes de o vermos pela primeira vez, esperamos o pior. É descrito
como um monstro, revelam-se alguns pormenores macabros do seu comportamento e
somos levados até à sua cela de Baltimore, nas profundezas da terra, através de
incontáveis escadarias, alertas, portas blindadas, gradeamentos e polícias. Já
na ala subterrânea de altíssima segurança, avançamos perante os olhares de
outros presos de ar assustador, num sinistro crescendo de expectativa. Quando
estamos já devidamente aterrorizados, esperando ver o próprio diabo encarcerado
no final do corredor, eis que nos surge um homem gentil, sorridente, penteado e
bem barbeado, a quem até o reles uniforme prisional assenta como se tivesse
sido feito por um alfaiate de Savile Row. Mais tarde, já na magnífica prisão
improvisada de Memphis, teremos o choque inverso. Foram-nos mostrados os seus requintados
desenhos, o seu olfacto prodigioso, o seu gosto pela poesia, pela filosofia,
pela haute cuisine e pelas Variações
Goldberg de Bach, e estamos tão apaixonados pelos seus modos e maneirismos que
já esquecemos as recomendações e avisos de Frederick Chilton, o director do hospital-prisão
de Baltimore.
Olhamos
para ele nesse momento como quem olha para um urso no jardim zoológico: sabemos
da sua natureza, mas temos vontade de entrar na jaula para lhe fazer festinhas.
E é nesta altura de vulnerabilidade do espectador que levamos com toda a sua
selvajaria e requintes de malvadez, através de um ataque monstruoso a dois
polícias, que inclui ventres abertos e faces arrancadas a golpes de canivete. É
um momento poderosíssimo do filme, visualmente inspirado em trabalhos do pintor
Francis Bacon, e que serve um duplo propósito de choque: Lecter sabe que o
horror do cenário vai desorientar psicologicamente os polícias, aumentando
assim as probabilidades de uma fuga bem-sucedida, e Jonathan Demme sabe que
aquela cena vai acabar com todas as ilusões que fomos alimentando relativamente
à humanidade do psiquiatra.
Há
uma quantidade impressionante de páginas da internet dedicadas à forma como
Anthony Hopkins deu corpo e voz à personagem, o que leva a que, tantos anos
passados, mitos e verdades se misturem alegremente. Diz-se que estudou os
répteis e a forma consciente e voluntária como, contrariamente aos humanos,
piscam os olhos; que se inspirou na voz, na inteligência e na omnisciência do HAL
9000 da obra de Stanley Kubrick; que surpreendeu algumas vezes Jodie Foster e o
realizador com frases que não estavam no guião; que tentou imitar os movimentos
de um gato na cena final; que assistiu a julgamentos de homicidas reais para
ouvir os seus depoimentos, como forma de inspiração. Folclore à parte, a
verdade é que Hannibal the Cannibal é tão marcante que quase ninguém tem
consciência do reduzidíssimo espaço temporal que ocupa no filme. Muitos actores
secundários estiveram mais tempo no ecrã do que este vencedor do óscar de
melhor actor principal, que não chega a utilizar 20 minutos das 2 horas de
duração d´O Silêncio dos Inocentes!
Os homens não se medem aos palmos e as interpretações não se medem ao
cronómetro. Claro que, se quisermos desvalorizar este aspecto, podemos olhar
para a coisa pelo prisma da área, como quem avalia imobiliário ou o preço dos
cerâmicos de casa de banho. É que Lecter, através dos já referidos close-ups, ocupa mais metros quadrados de
tela do que a maioria dos actores que o precederam na história do cinema.
Todas
as representações são de realçar, do desagradável Chilton ao circunspecto Sgt.
Tate, passando pelo cordial Barney e pelo arrasado Mr. Bimmel. Até a cadelinha Precious
desempenhou um papel que lhe valeu um clube de fãs, já para não falar do
produtor Edward Saxon que, num impressionante cameo, “emprestou” a própria cabeça para colocar dentro de um
frasco de vidro.
Apesar
das críticas a que foi sujeito por causa das questões de género (a comunidade
LGBT não perdoou a sexualidade confusa de Buffalo Bill, levando a que Jonathan
Demme, carregado de peso na consciência, a presenteasse com Filadélfia em 1993), a verdade é que o
filme é profundamente feminista no sentido mais nobre da palavra: a pequena Clarice
Starling, não obstante o ar frágil, revela-se uma heroína verdadeiramente
corajosa num ambiente policial marcadamente masculino; Catherine Martin não se
resigna ao papel de vítima e dá luta ao tenebroso raptor; a Senadora Ruth
Martin, mãe de Catherine, é retratada como uma mulher inteligente e sem medo de
exercer a sua autoridade.
Mas não vale a pena atirar areia para os olhos de ninguém. É muito claro nesta altura do texto que os meus “heróis” são dois homens: Hannibal Lecter e Ted Tally, o modesto argumentista que teve a sinceridade e dignidade de dizer que o seu maior mérito tinha sido pegar num bom livro de Thomas Harris e não o ter estragado. Como disse Frank Capra, num registo semelhante ao utilizado por Paul Thomas Anderson, as três coisas mais importantes de um filme são o argumento, o argumento e o argumento. É da conjugação da pena de Tally e do talento de Hopkins que surgem as inesquecíveis frases de Lecter, sendo que a mais famosa – “A census taker once tried to test me… I ate his liver with some fava beans and a nice Chianti" – não é, definitivamente, a minha preferida. Além da que já referi anteriormente, e que uso para comunicar à minha mulher que já estou pronto para sair de casa, gosto particularmente da que utiliza para justificar a mentira sobre o verdadeiro nome de Buffalo Bill. Lecter informa a Senadora e as autoridades que o raptor de Catherine se chama Louis Friend, e Starling percebe que se trata de um nome falso, um mero anagrama para iron sulfide (em português, pirite de ferro), o famoso mineral dourado conhecido como ouro-dos-tolos. Nessa altura, apanhado a gozar com os seus carcereiros, Hannibal solta um delicioso "Oh, Clarice, your problem is you need to get more fun out of life", uma pérola de cinismo que nos revela o seu único verdadeiro medo: o tédio.
No seu ensaio David Lynch keeps his
head, David Foster Wallace, a propósito dos diferentes tipos de filmes,
atribui ao dito cinema comercial o objectivo de entreter e ao cinema de arte
(na Europa talvez lhe devêssemos chamar cinema de autor) a pretensão mais
intelectual de “educar” ou o propósito estético de impressionar. DFW, com
piada, conclui que o esforço interpretativo que temos de fazer em certos filmes
faz do acto de compra do bilhete uma pura excentricidade, a de pagar para
trabalhar. Não querendo colocar Jonathan Demme no altar dos verdadeiros
autores, até porque nem sempre essa categorização assume contornos de elogio,
parece-me muito redutor tratá-lo como uma mera peça da gigantesca engrenagem do
cinema comercial. E não é por ter facturado uma pipa de massa que deixa de
haver muita arte n´O Silêncio dos
Inocentes. Por isso, política à parte, o meu desejo é que a última frase
dos créditos finais do filme continue a inspirar o seu trabalho por muitos e
bons anos.
Sérgio
Barreto Costa
Fantástica análise de um magnífico filme.
ResponderEliminarcool
ResponderEliminarBelo artigo. Uma critica digna de jornal, devia de ser assim... com muito sumo. Mas não sempre a pender para modas.
ResponderEliminarAbc