terça-feira, 9 de outubro de 2012

A duquesa, o homem sem cabeça e o colar de pérolas.

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Protagonizou um longo e escandaloso divórcio, cujos lurid details causaram um frenesim mediático sem precedentes na Londres dos sixties e por um triz não fizeram cair o governo conservador de Harold Macmillan. 
Margaret enganou o marido. De forma reiterada e muito pouco discreta. Imprudente, anotava nos seus diários os affaires que ao longo de vários anos foi tendo. Pior, guardava entre os seus mais prezados recuerdos uma extraordinária colecção de fotos Polaroid. As imagens, captadas na sumptuosa casa de banho art deco do seu apartamento de Mayfair mostravam-na dresses in nothing but three strands of pearls, performing o que o juiz do divórcio qualificou como disgusting sexual activities num homem de quem pouco mais se vê que o torso. Outras havia de um homem sozinho, engaged em lewd practices, também ele shown from the neck down. Estas últimas fotos últimas exibiam ainda salacious comments, a si dirigidos, manuscritos em jeito de dedicatória.  
Tudo isto é extraordinário – mas não justifica, só por si, o meu fascínio por Margaret Campbell, the Duchess of Argyll e pela sua história. O qual tem uma outra e bem mais prosaica explicação. Pérolas. Um colar de pérolas. Um belíssimo e bem-comportado colar de pérolas de três voltas que, culpa de Margaret, passou a ser também símbolo de decadence and debauchery. E motivo de algum constrangimento para todas as mulheres – nas quais eu me incluo - que desde que o mundo é mundo gostam de pérolas e confiam na sua luminosa e límpida beleza para realçar encantos e para exprimir feminilidade e sedução.   
Ethel Margaret Whigham nasceu em 1912, filha única de um milionário escocês. Viveu e estudou em Nova Iorque, onde o seu pai tinha negócios. De regresso a Londres, e como era costume na época, foi apresentada em sociedade mal completou 18 anos. Foi mediato e duradouro o sucesso: a sua beleza e a sua fortuna fizeram dela a debutante of the year de 1930, a sua elegância e a sua exuberante personalidade tornaram-na figura central da social scene de então. Seguiram-se um sem número de pretendentes e de romances, o noivado, anunciado e logo desfeito, com um aristocrata inglês, o casamento com um jogador de golf americano, o divórcio deste e mais um sem número de pretendentes e de romances. Até que em 1951 casou com Ian Douglas Campbell, the 11th Duke of Argyll.  
Um match made in heaven para Margaret – ela própria o reconheceu mais tarde:  I had wealth, I had good looks. As a young woman I had been constantly photographed, written about, flattered, admired, included in the Ten Best-Dressed Women in the World list. I had become a duchess and mistress of an historic castle. Life was apparently roses all the way”. Só que Margaret não fora feita para a sombria pacatez das scottish highlands, pelo que depressa rumou a Londres, deixando marido e castelo para trás.
O escândalo rebentou em 1959 quando o Duke of Argyll propôs uma acção de divórcio contra Margaret. Como prova das suas acusações de adultério - concretizadas numa extensa e variada lista de 88 supostos amantes, a qual incluía dois ministros, vários actores de Hollywood e três membros da família real –, o marido queixoso apresentou em tribunal os diários de Margaret e as referidas fotos Polaroid, obtidos numa busca ao seu boudoir levada a cabo pela sua enteada.  
Foi tremendo o escândalo, explosivas as revelações e acusações de parte a parte e desmedida a curiosidade quanto àquele a quem o juiz se referia no processo como the Man Without a Head e que a imprensa da época crismou também como the Headless Lover. Dos vários candidatos apontados, dois havia que se perfilavam como altamente prováveis: Duncan Sandys, genro de Winston Churchill, e o actor Douglas Fairbanks Jr., ambos casados, to make matters worse.
Porque Duncan Sandys era também Minister of Defence e porque - poor timing indeed, o de Lord Argyll – o julgamento deste infamous divorce coincidiu com os depoimentos na House of Commons e a subsequente demissão de John Profumo, Secretary of State for the War, que se desgraçara também devido a sexual indiscretions, foi pedido ao magistrado que conduzira o inquérito a este último caso, que averiguasse quem era the Man Without a Head. O relatório final da investigação ilibou Duncan Sandys, mas foi em tudo o mais inconclusivo - ou seja, nada adiantou quanto à identidade do Headless Lover, que permaneceu por desvendar durante décadas.
Sabe-se hoje que o misterioso Headless Man não era um - mas dois. Justamente os dois de que mais insistentemente se falava: Douglas Fairbanks, “apanhado” à época por um exame grafológico (a sua caligrafia correspondia à das “dedicatórias” apostas nas lewd photos) e Duncan Sandys, subtilmente denunciado mais tarde pela própria Margaret que, pouco antes de morrer, confidenciou a um amigo que “the only Polaroid camera in the country at this time had been lent to the Ministry of Defence.
Quanto a Margaret, nunca houve a menor dúvida. Era ela, só podia ser ela. Porque era sua a casa de banho onde haviam sido tiradas as fotos. E por causa do colar. Que distintamente se via nas sexually explicit images e que era a sua signature jewel, indissociável da sua exquisitely elegant imagem que enchia as society pages e as gossip columns onde tinha lugar cativo. Nunca saberemos porque não o tirou on that occasion: the reason why is left entirely to our imagination. Igualmente não o fez, continuando a apresentar-se impeccable and defiant in three strands of pearls durante as audiências de julgamento e mesmo depois de a sentença que lhe pôs termo a ter publicamente exposto como a completely promiscuous woman, one who has ceased to be satisfied with normal sexual activities. Tinha estilo e tinha nerve, quite a nerve, há que reconhecer. Mas que bem podia ter deixado as pérolas fora disto, podia.


Joana Vasconcelos

(originalmente publicado aqui)






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