segunda-feira, 22 de outubro de 2012

Dona Oliva.

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Fotografias de João Cortes





Esteve ali  anos sem fim. Era a mais antiga na casa, aquela a quem concediam o privilégio de trabalhar na melhor Oliva. Horas a fios, entre acertos e bainhas, agarrada a uma máquina a que agora chamam «objecto icónico». Depois veio o incêndio no andar de cima, e tiveram que parar a laboração, restando apenas ela e a Oliva para os arranjos d’occasião. Só, na Sé, a costureirinha encurvada sobrevivia às horas, na paixão pretérita por um rapaz de farda. Entretanto, lá no Norte, e até veio nos noticiários, fecharam a fábrica da Oliva, um edifício elegante, quase tão bonito como o rapaz da farda. Cada dia mais falha da vista, começou a ficar perturbada nos seus entendimentos; e a fenecer, a fenecer. Quando lá voltei, não a encontrei.  

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