domingo, 9 de março de 2014

Les uns et les autres.

 
 
 

 
 
Este vídeo da Save the Children anda a causar furor no mundo, no mundo «civilizado», que o outro não tem YouTube. No YouTube, já conta com quase 20 milhões de visualizações. A apresentação do filme está aqui, dizendo-se que três anos de guerra civil na Síria já custaram a vida a 11.000 crianças. Há um milhão de crianças refugiadas. Mas, por mais que a estatística nos arrepie, este filme, que segundo me parece representa o que seria o crescimento e o dia-a-dia de uma das «nossas» crianças se vivesse na Síria, é o nos que causa mais incómodo e indignação. Como se, para nos sentirmos sírios, necessitemos de ser figurados como «nós», ocidentais e caucasianos, vivendo nas nossas cidades, nas nossas escolas, andando nas nossas ruas e saltando por parques relvados. Talvez isto seja a prova de que perdemos o sentido da alteridade, a capacidade de nos colocarmos por inteiro na posição do outro – e que só através da representação dos outros como «nós» somos capazes de nos comover e impressionar. O mundo é um lugar estranho.
 
 
 
 
 

2 comentários:

  1. Caro António Araújo,
    O filme parece-me óptimo (poderia ter ido mais longe); apenas me causa impressão o que ele revela sobre nós. É isso que causa repulsa. Mas não estamos tão fartos de ler e ouvir que colocar-nos no lugar do outro é "relativismo" e uma manifestação de "politicamente correcto"? Ora, pois então...
    Isto tem muitas ramificações. Lembro-me de um texto de um scholar inglês, não sei já onde, que dizia compreender perfeitamente que as crianças palestinianas dos territórios ocupados crescessem a odiar os israelitas e americanos. Um europeu caucasiano normalmente não compreende isto. Quem fez o filme também não o entenderá, até porque a criança, mesmo desprovida de bem estar, parece não ter ainda perdido a inocência.

    Pedro

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    1. Muito obrigado pelo seu comentário, Pedro.
      Cordialmente,
      António Araújo

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