Dizem os jornais de há dias que a Direcção-Geral
de Saúde elaborou, pela primeira vez, um plano de prevenção de suicídios. Ao
que parece, o número subiu recente e vertiginosamente. A DGS fala de uma
«necessidade premente» de criar um «plano de prevenção», que é coisa que regra geral nunca dá em nada. Segundo os dados mais
recentes, em 2011 houve 1.012 suicídios em Portugal. Culpa da crise, talvez. Mas, bem ou
mal, há quem se dê ao trabalho inverso da nossa DGS: ensinar técnicas que
facilitam o suicídio. A intenção não é necessariamente maléfica: já que alguém
quer pôr termo à vida, que o faça da melhor maneira. Que cada um tenha o direito
a morrer a sua própria morte, já dizia Torga, bardo telúrico. Todos se recordam quando foi
publicado em França Suicídio. Modo de Usar, de Claude Guillon e Yves Le Bonniec. O livro suscitou uma polémica
danada, creio que até foi proibido na sequência de uma vaga suicida que por lá
passou. Entre nós, foi dado à estampa em 1990 pela Antígona, sem suscitar alaridos nem
indignações. Ainda bem. Mas, para quem não quiser gastar os 5 euros que o livro
hoje custa, mais portes de envio da Wook, e como a vida está pela hora da
morte, há sempre o instrutivo Lost All Hope, um site pateta que nos ensina a matar-nos, que é coisa que, além
de dar uma trabalheira danada, não é assim muito asseada, e quem cá fica é
que tem de limpar. Escusa portanto o Sr. Durkheim de falar em «suicídio
altruísta» pois todo o suicídio é egoísta, pelo menos nisso: quem cá fica é
que as paga. O Lost All Hope recomenda
bibliografia e tudo mas, como é bimbo, não cita o livro de Claude Guillon e
Yves Le Bonniec. Nem cita sequer os grandes clássicos, com David Hume à cabeça (aqui). Não
recomendo nadinha o Lost All Hope,
até porque o incitamento ao suicídio é crime punido por lei penal. À cautela, o Lost All Hope tem também um manual de prevenção, com delírios
fantásticos como «a regra dos três dias». Que reza assim: se estás a pensar suicidar-te
hoje, não te precipites; esperas até quarta, quinta-feira e, nessa altura, se a
intenção autodestrutiva se mantiver muito forte, então vai em frente. Para os potenciais
suicidas, haveria outra regra mais prática e produtiva: em vez de se matarem de vez, porque
não traduzem Offences against one's self ?
É um clássico dos clássicos, um texto extraordinário de Jeremy Bentham que, ao fim de
séculos, ainda não foi traduzido entre nós, e que até interessa para a discussão sobre homossexualidade, etc. Traduzi-lo é uma boa alternativa. O facto de
este ensaio de Bentham, segundo creio, não estar por cá traduzido levará certamente Vasco Pulido
Valente a fustigar a ignorância dos «indígenas»; ou o digníssimo Unamuno a lamentar Portugal
e o seu pueblo de suicidas. Nada
disto interessa. Vamos lá traduzir o texto de Bentham, dando-se alvíssaras a quem o fizer, com garantia de publicação aqui no Malomil. E, já que
estamos em domínios de negros humores, convém recordar, no remate final, que a
múmia de Jeremy Bentham, por vontade deste, está preservada na Universidade de Londres. Ao que parece, primeiro restauraram o corpo e só depois a cabeça, que mereceu tratamento à parte. Em certas ocasiões, colocam-no a ele, Bentham, ou a ela, a sua múmia, à mesa das reuniões académicas, sendo qualificado como um membro «present but not voting». A morte é um lugar estranho.
A múmia de Bentham, muito quietinha
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Também poderia recomendar "O Livro dos Coelhinhos Suicidas"...
ResponderEliminarhttps://www.google.pt/search?q=coelhinhos+suicidas&tbm=isch&tbo=u&source=univ&sa=X&ei=FNd7U8ebJKSb0AXq_YDIAw&sqi=2&ved=0CDUQ7Ak&biw=1527&bih=868
Já o fiz, em tempos...
Eliminarhttp://malomil.blogspot.pt/2012/04/coelhos-suicidas.html
Um abraço,
António Araújo
Será possivel?
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