O muito encantador e assaz sabedor Nuno
Quintas contou-me a história fabulosa de Henry Darger Jr. (1892-1973). Órfão de mãe aos
quatro anos, educado em orfanatos, Henry foi uma pessoa cuja existência
decorreu na mais pura solitude of the self, para usar a expressão tantas vezes aqui evocada da grande Elizabeth
Cady Stanton. Teve empregos menores nos hospitais de Chicago e apenas um amigo
durante toda a vida terrena. Quando morreu, em 1973, o senhorio descobriu no
seu quarto uma enorme massa documental, espólio quilométrica. Várias centenas
de desenhos e o manuscrito de um livro com um título comprido: The Story of the Vivian Girls, in What Is Known as the
Realms of the Unreal, of the Glandeco-Angelinian War Storm, Caused by the Child
Slave Rebellion (ver aqui). O texto, uma história de mistério e imaginação, tem
mais de quinze mil páginas e, ao que sei, não foi ainda publicado na íntegra.
Em complemento, Darger escreveu um volume romanesco mais conciso, de apenas dez
mil páginas – Crazy House – e um
relato autobiográfico também muito sintético, de somente 4.672 páginas. Agora,
pós-morto, Darger é famoso, exposto em dezenas de galerias e museus, figura
lendária da cultura popular americana. Já uma vez tinha falado aqui de outra
história parecida, a de James Hampton.
São ambas muito USA, e se tiverem mais não hesitem em trazê-las, como fez o
Nuno, a quem agradeço muito, com um abraço amigo do
António
Araújo
Henry Darger Jr. (1892-1973)
|
Conheço eu, pelo menos desde uma exposição sobre as principais coleções do museu Chicago art outsider que visitei em 1998 na muito recomendavel Halle Saint Pierre ( eis a capa do catalogo, que naturalmente comprei na altura : http://www.hallesaintpierre.org/wp-content/uploads/2012/01/IMG_2068.jpg ). Impossivel não ficar deslumbrado com as peças, e também com a historia perfeitamente incrivel deste marginal, um pouco retardado, traumatizado desde a infância pela perda duma irmã mais nova com poucos anos de vida.
ResponderEliminarSaliente-se que ele não sabia desenhar, de maneira que todas as fabulosas composições que podemos ver (hoje reproduzidas em inumeros catalogos e livros dedicados ao artista), são feitas a partir de figurinos que ele decalcava em revistas de moda ou de actualidade, e depois ampliava ou diminuia consoante fosse necessario.
Os quadros representam directamente as suas obsessões, que também inspiram a epopeia escrita a que alude o post : cenas paradisiacas com crianças decalcadas a partir de bonecas(a que ele muitas vezes acrescentava um sexo masculino, também ele de criança), que a seguir são cruelmente chacinados por militares.
Impossivel ficar indiferente perante esta obra atormentada mas possante. Se tiverem oportunidade de ver os quadros, não percam.
Boas
Lendo de novo o post, fui ver a entrada wikipédia sobre a irmã, que pelos vistos não morreu, mas foi dada para adopção logo apos a morte da mãe, quando Darger era ainda muito novo.
EliminarBoas
Muito obrigado!
EliminarAntónio Araújo