Para
o viajante dos nossos dias, qualificar a cosmopolita e mega-fashion Milão como
uma cidade «pitoresca» poderá parecer uma heresia; ou, pior ainda, uma
idiotice. Mas a questão foi suscitada e respondida por Edith Warton, a grande
Edith Warton, num texto de 1905 que começa assim, em flagrante actualidade: «it is hard to say whether the stock phrase of the stock
tourist—“there is so little to see in Milan”—redounds most to the derision of
the speaker or to the glory of Italy» (na íntegra,
aqui
e, numa bela edição fac-similada e online, a obra Italian
Backgrounds, aqui). Já agora, e a talhe de foice, lembremos que Mark Twain foi um bocadito ácido e mauzinho para uma das atracções de Milão, A Última Ceia, mas isso são contas de outro rosário.
Basílica de São Lourenço, Cappella Cittadini, Milão
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A leitora Nela San e também caçadora de
elefantes artísticos esteve em Milão e de lá mandou fotografias da CappellaCittadini da Basílica de São Lourenço em Milão
(não confundir com a de Florença), uma das mais antigas igrejas da cidade,
cujas raízes mergulham nos séculos III-I. A capela e os elefantes são
posteriores, do século XIII, e atestam a presença de paquidermes pela Europa
muito mais cedo do que por vezes se diz. Ao lado dos elefantes, o que me parece
ser uma avestruz, o que me faz lembrar que, por estes dias, terei de falar dos
magníficos azulejos do Palácio dos Marqueses das Minas, ao Bairro Alto, que
figuram espantosas cenas de caça, entre as quais a de uma avestruz. E, já
agora, contar também a história de Abul-Abbas, o elefante de Carlos Magno, do
século XI, que foi fresco a Ermida de San Baudelio mas está hoje no Prado
(aqui), e sobre o qual existe um livro que aqui vi, mas não li.
Museu do Prado
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Diz-se que Abul-Abbas era muito raro por
ser um elefante branco (e nada de graçolas com estabelecimentos lisbonenses de
diversão nocturna) e que morreu um pouco disparatadamente: tomou banho no Reno,
apanhou uma pneumonia e foi-se, coitado. E há elefantes no xadrez de Carlos
Magno, mas isso é outra história, também fascinante.
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