domingo, 17 de fevereiro de 2019

Um pouco mais (de elefantes).


 

 
Para o viajante dos nossos dias, qualificar a cosmopolita e mega-fashion Milão como uma cidade «pitoresca» poderá parecer uma heresia; ou, pior ainda, uma idiotice. Mas a questão foi suscitada e respondida por Edith Warton, a grande Edith Warton, num texto de 1905 que começa assim, em flagrante actualidade: «it is hard to say whether the stock phrase of the stock tourist—“there is so little to see in Milan”—redounds most to the derision of the speaker or to the glory of Italy» (na íntegra, aqui e, numa bela edição fac-similada e online, a obra Italian Backgrounds, aqui). Já agora, e a talhe de foice, lembremos que Mark Twain foi um bocadito ácido e mauzinho para uma das atracções de Milão, A Última Ceia, mas isso são contas de outro rosário.
 



Basílica de São Lourenço, Cappella Cittadini, Milão
 
 
A leitora Nela San e também caçadora de elefantes artísticos esteve em Milão e de lá mandou fotografias da CappellaCittadini da Basílica de São Lourenço em Milão (não confundir com a de Florença), uma das mais antigas igrejas da cidade, cujas raízes mergulham nos séculos III-I. A capela e os elefantes são posteriores, do século XIII, e atestam a presença de paquidermes pela Europa muito mais cedo do que por vezes se diz. Ao lado dos elefantes, o que me parece ser uma avestruz, o que me faz lembrar que, por estes dias, terei de falar dos magníficos azulejos do Palácio dos Marqueses das Minas, ao Bairro Alto, que figuram espantosas cenas de caça, entre as quais a de uma avestruz. E, já agora, contar também a história de Abul-Abbas, o elefante de Carlos Magno, do século XI, que foi fresco a Ermida de San Baudelio mas está hoje no Prado (aqui), e sobre o qual existe um livro que aqui vi, mas não li. 
 
Museu do Prado
 
 
Diz-se que Abul-Abbas era muito raro por ser um elefante branco (e nada de graçolas com estabelecimentos lisbonenses de diversão nocturna) e que morreu um pouco disparatadamente: tomou banho no Reno, apanhou uma pneumonia e foi-se, coitado. E há elefantes no xadrez de Carlos Magno, mas isso é outra história, também fascinante.



 


 

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