sábado, 2 de fevereiro de 2019

Agora, sim, a casa-elefante.

 



 

 
Antes de falar sobre casas-elefante convém esclarecer que existe um belíssimo artigo sobre casas-elefantes. E que esse artigo é da autoria de Pedro Bandeira e Ana Laureano Alves. Saiu na revista Arqa, Janeiro/Fevereiro de 2012, e está disponível online e tudo, aqui.
Portanto, o que aqui se irá dizer sobre casas-elefante já foi dito, e com muito maior propriedade, por Pedro Bandeira e Ana Laureano Alves, que começam por informar os leitores que a primeira casa-elefante de que há registo e memória foi construída em 1881. E, aliás, é a única que ainda hoje existe. Chama-se Lucy (http://www.lucytheelephant.org/). Já quiseram mandá-la abaixo, mas houve uma campanha que não só evitou a demolição como levou a que a casa, a casa-elefante, fosse classificada como national historical landamark dos EUA, pois é lá que fica, em New Jersey, numa cidade chamada Margate (ver aqui) O seu arquitecto foi James Lafferty Jr. (com auxílio do colega William Free) e o mastodonte habitacional, com quase vinte metros de altitude, visava servir de chamariz a um empreendimento imobiliário. Lafferty, claro, foi à falência e teve que vender a Lucy, que tinha sido moldada a partir do célebre Jumbo, do circo Barnum, sobre o qual ainda havemos de falar um dia destes.
 

 
 
 
 


 
 
Embalado por este projecto do Elephant’s Bazaar,  Lafferty Jr. Deu à luz o Elephantine Colossus, mais alto do que o primeiro: com 37 metros, assombrava Coney Island, arredores de NYC. Já agora, uma dica para o Pedro e a Ana, caso voltem ao tema: Rem Koolhaas tem um belíssimo livro sobre Nova Iorque Delirante onde fala disto com muito interesse (e, já agora, da ida de Gorki a Coney Island). O colosso de Coney Island (ilha dos coelhos, é verdade) ardeu, foi-se em cinzas. Também desapareceu, não sei como pois era grandinho, o Light of Asia, um paquiderme-residência que Laffertt Jr. projectou e fez erguer em Cape May.
 
 
 

 

 
 
O incêndio de 1896
 
 
Coisa que aprendi com o artigo do Pedro Bandeira e da Ana Laureano Alves é que antes das invenções de Lafferty já Jules Verne tinha imaginado uma casa-elefante. La Maison à Vapeur conta uma história em que quatro heróis andavam pelo mundo numa casa a vapor com a forma de… um elefante gigantesco, com a altura de vinte pés, comprimento de trinta e largura proporcional. Falando em animais, e a talhe de foice, de Jules Verne o interessantíssimo (mas fracote, literariamente falando, pois é opereta pateta), Monsieur de Chimpanzé, que foi editado há um par de anos num livrinho de Coimbra muitíssimo recomendável. Ah, e se falamos de casas a vapor e mecanicismos típicos da revolução industrial, lembrar o Steam Elephant 1ue John Buddle e William Chapman fizeram em 1815 e que tem nome de elefante pela razão óbvia que podeis reconhecer no formato da chaminé. Dava 7 km/hora, muito abaixo do que um elefante, com os seus 40 km/h, em média.
 
Ilustração de Léon Benett para o livro de Verne, 1880
 



 
Fala-se também no Elefante da Bastilha, a que já fiz referência aqui, há uns tempos. Victor Hugo falou dele nos Miseráveis e também Simon Schama logo na abertura de Cidadãos. Mas, ao que parece, a primeira casa-elefante não foi a de Lafferty. Antes dela, em 1758, Charles François Ribart projectara um Elefante Triunfal para Paris, que nunca viu a luz.
 
Elefante da Bastilha






 
Pensando melhor, há uma casa-elefante anterior. Ou pelo menos assim parece. Melhor visto e dizendo, a gravura fantástica do fantástico Hieronymus Cock (1510-1570) mostra um elefante com uma torrinha tão imaginosa que parece mesmo um elefante-casa, ou uma casa-elefante. Sempre gostei muito do trabalho gráfico de Hieronymus Cock e até julgava que sabia alguma coisa sobre ele até ler este assombroso artigo de Kerry Barrett. Para quem se interessa pela gravura Peixe Grande a Comer Peixe Pequeno, entre outras pérolas, recomendo muitíssimo o artigo de Barrett. E por hoje é tudo.  
 
 

 

 



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