Antes de
falar sobre casas-elefante convém esclarecer que existe um belíssimo artigo
sobre casas-elefantes. E que esse artigo é da autoria de Pedro Bandeira e Ana
Laureano Alves. Saiu na revista Arqa, Janeiro/Fevereiro de 2012, e está
disponível online e tudo, aqui.
Portanto, o
que aqui se irá dizer sobre casas-elefante já foi dito, e com muito maior
propriedade, por Pedro Bandeira e Ana Laureano Alves, que começam por informar
os leitores que a primeira casa-elefante de que há registo e memória foi construída
em 1881. E, aliás, é a única que ainda hoje existe. Chama-se Lucy (http://www.lucytheelephant.org/). Já quiseram mandá-la
abaixo, mas houve uma campanha que não só evitou a demolição como levou a que a
casa, a casa-elefante, fosse classificada como national historical landamark dos EUA, pois é lá que fica, em New
Jersey, numa cidade chamada Margate (ver aqui) O seu arquitecto foi James Lafferty Jr.
(com auxílio do colega William Free) e o mastodonte habitacional, com quase
vinte metros de altitude, visava servir de chamariz a um empreendimento
imobiliário. Lafferty, claro, foi à falência e teve que vender a Lucy, que tinha sido moldada a partir do célebre Jumbo, do circo Barnum, sobre o qual ainda havemos de falar um dia destes.
Embalado por
este projecto do Elephant’s Bazaar, Lafferty Jr. Deu à luz o Elephantine Colossus, mais alto do que o primeiro: com 37 metros,
assombrava Coney Island, arredores de NYC. Já agora, uma dica para o Pedro e a
Ana, caso voltem ao tema: Rem Koolhaas tem um belíssimo livro sobre Nova Iorque Delirante onde fala disto
com muito interesse (e, já agora, da ida de Gorki a Coney Island). O colosso de
Coney Island (ilha dos coelhos, é verdade) ardeu, foi-se em cinzas. Também
desapareceu, não sei como pois era grandinho, o Light of Asia, um paquiderme-residência que Laffertt Jr. projectou
e fez erguer em Cape May.
O incêndio de 1896
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Coisa que
aprendi com o artigo do Pedro Bandeira e da Ana Laureano Alves é que antes das
invenções de Lafferty já Jules Verne tinha imaginado uma casa-elefante. La Maison à Vapeur conta uma história em
que quatro heróis andavam pelo mundo numa casa a vapor com a forma de… um
elefante gigantesco, com a altura de vinte pés, comprimento de trinta e largura
proporcional. Falando em animais, e a talhe de foice, de Jules Verne o
interessantíssimo (mas fracote, literariamente falando, pois é opereta pateta), Monsieur de Chimpanzé,
que foi editado há um par de anos num livrinho de Coimbra muitíssimo
recomendável. Ah, e se falamos de casas a vapor e mecanicismos típicos da
revolução industrial, lembrar o Steam Elephant 1ue John Buddle e William Chapman fizeram em 1815 e que tem nome
de elefante pela razão óbvia que podeis reconhecer no formato da chaminé. Dava
7 km/hora, muito abaixo do que um elefante, com os seus 40 km/h, em média.
Fala-se
também no Elefante da Bastilha, a que já fiz referência aqui, há uns tempos.
Victor Hugo falou dele nos Miseráveis
e também Simon Schama logo na abertura de Cidadãos.
Mas, ao que parece, a primeira casa-elefante não foi a de Lafferty. Antes dela,
em 1758, Charles François Ribart projectara um Elefante Triunfal para Paris,
que nunca viu a luz.
Pensando
melhor, há uma casa-elefante anterior. Ou pelo menos assim parece. Melhor visto
e dizendo, a gravura fantástica do fantástico Hieronymus Cock (1510-1570) mostra um
elefante com uma torrinha tão imaginosa que parece mesmo um elefante-casa, ou
uma casa-elefante. Sempre gostei muito do trabalho gráfico de Hieronymus Cock e
até julgava que sabia alguma coisa sobre ele até ler este assombroso artigo
de Kerry Barrett. Para quem se interessa pela gravura Peixe Grande a Comer Peixe Pequeno, entre outras pérolas, recomendo
muitíssimo o artigo de Barrett. E por hoje é tudo.
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