Midas Filmes afastada do concurso de apoio à Distribuição
do ICA
com o objectivo de liquidar a actividade de estreia de
filmes da distribuidora
Os apoios do Instituto de Cinema à actividade
da distribuição independente em Portugal têm sido decisivos para a
manutenção deste sector e o país pode orgulhar-se de ter continuado a mostrar
algum do melhor cinema do mundo nas suas salas de cinema.
Na actual situação em que os cinemas encerraram durante
quase três meses e em que a actividade continua muito incerta, esse apoio é ainda
mais decisivo.
Pois é precisamente numa situação como a que vivemos que os
serviços do ICA decidem - escudando-se num artifício legal
inconcebível - afastar liminarmente a candidatura da Midas Filmes
(consequência de uma plataforma informática totalmente incompetente e que tem
levado ao regular adiamento de concursos, e sendo famosa no meio
cinematográfico pela sua total inadequação). *
É um apoio de apenas 60 mil euros - e portanto
uma pequena parte na nossa actividade de distribuição - mas o
suficiente para pura e simplesmente liquidar essa actividade de estreia de
filmes por parte da Midas.
Para dizê-lo de forma muito clara, o resultado desta
decisão por parte do ICA será a liquidação da actividade de estreia
de filmes por parte da Midas.
Criada em 2007, a Midas estreou ao longo destes
anos alguns dos filmes e realizadores mais importantes do cinema contemporâneo,
num total de 190 filmes (26 dos quais portugueses) e editou em DVD mais de três
centenas.
Este ano, depois de J’Accuse, Retrato
da Rapariga em Chamas e O Paraíso, Provavelmente, iríamos
estrear, entre muitos outros, os novos filmes do mexicano Carlos
Reygadas, dos franceses Arnaud Desplechin, Philippe
Garrel e Valerie Donzelli, dos italianos Nanni
Moretti, Daniele Luchetti e Gabriele Salvatores,
do tailandês Apichatpong Weerasethakul, do japonês Kioshi
Kurosawa e do coreano Hong Sang-Soo, documentários do
chinês Jia Zhang-Ke e do chileno Patricio Guzmán,
do britânico Mark Cousins. A qualidade e a importância destes
filmes falam por si.
São estes filmes e a actividade
de distribuição da Midas que esta decisão dos serviços
do ICA - perante a passividade e a complacência do Ministério da
Cultura - agora irá liquidar.
E de caminho, liquidar também o Cinema Ideal, que à beira
de assinalar seis anos de vida foi a única sala de cinema de Lisboa (e a
primeira no país) que a 1 de Junho reabriu depois do confinamento.
Numa altura em que a Cultura e o Cinema em particular
passam por uma das suas mais graves crises, a atitude dos serviços do Instituto
de Cinema (que ao longo dos últimos meses têm tido atitudes cada vez mais
controversas e não escrutinadas) requer uma intervenção imediata por parte das
autoridades governamentais.
O senhor Secretário de Estado do Cinema, a senhora Ministra
da Cultura, o senhor Primeiro-Ministro, não podem assistir passivamente, não à
liquidação da Midas, mas à liquidação da razão de ser do próprio Instituto
de Cinema, que é o que esta atitude significa.
* a ridícula ‘justificação’ dos serviços do Instituto é da ausência de um
documento – Declaração Sob Compromisso de Honra, modelo A – em que o gerente da
empresa candidata certifica que não é assassino nem ladrão nem por tal foi
condenado, documento que é no meio cinematográfico apenas objecto de chacota e
que juristas abalizados consideram, além de imprestável, ilegal. E declaração
de que os serviços do ICA possuem anteriores exemplares; e finalmente
declaração que não faz parte do dossier do projecto a concurso.
Boa tarde:- Existem razões que nem a razão entende.
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Cumprimentos poéticos