terça-feira, 14 de julho de 2020

Zoomies.








Uma pergunta cândida à minha filha millenial acabou por me arrumar sem apelo nem agravo na condição de boomer, além de lhe ter proporcionado a ela, filha, um grande momento hilário, daqueles em que se fica para ali dobrada pelo abdómen a rir-se desalmada à custa de outrem.

Perguntava-lhe eu se o rótulo zoomer, aplicado às gerações de hoje, vinha da vida ao ecrã, acentuada pela importância do uso da plataforma Zoom para reuniões, encontros e encontrões na #atual situação. Parece que não, não é daí que vem. Vale-me ao menos saber que não estou só nisto, há mais inocentes como eu.

O que é certo é que a vida ao ecrã não foi a única coisa que a dita plataforma veio acentuar. Deu também rédea larga à reunite, a tendência para fazer reuniões a torto e a direito, por tudo e por nada, pelo-sim pelo-não -- ou sala-sim, sala-não, que dá para acumular às 4 à mesma hora e pular de recinto em recinto virtual num instantinho. E depois fazê-las durar. E durar. E durar. Para lá da pilha. É assim que às vezes se fica uma pilha -- mesmo tendo consciência que isto é rabujar de barriga cheia, com recursos que permitem a alguns e algumas ficarem protegidos em casa, coisa que não está ao alcance de toda a gente.

De maneira que quando o desenrolar do processo começa a enrolar nalgum particular irrelevante ou as voltas são muitas e com todo o vagar nos entretantos antes de se chegar aos finalmentes -- conduta essa adequadíssima noutro tipo de reuniões mas se deveria ater a essas, a fim de evitar transformar o próximo em Zoomie -- adoto mentalmente duas bandas sonoras que aceleram e aligeiram todo o cenário e os intervenientes. São como cócegas virtuais, digamos.

1) Tic Toc Choc, uma espécie de cócegas nas teclas (do piano, mas convertíveis em teclas de computador), muito bem ilustradas por Alexandre Tharaud, que além disso atraiu um rapper para espevitar ainda mais esta alegre peça de François Couperin. Em situação de reunião identifico-me particularmente com o rapper.
(2 minutos).

2) Playful Pizzicato, as cócegas nas cordas da Simple Symphony (e o termo pizzicato é já todo ele uma cócega em si), de Benjamin Britten, pela English Chamber Orchestra. 
(3 minutos).




  


Manuela Ivone Cunha















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