Uma pergunta cândida à minha filha millenial acabou por me arrumar sem
apelo nem agravo na condição de boomer, além
de lhe ter proporcionado a ela, filha, um grande momento hilário, daqueles em
que se fica para ali dobrada pelo abdómen a rir-se desalmada à custa de outrem.
Perguntava-lhe eu se o rótulo zoomer, aplicado às gerações de hoje,
vinha da vida ao ecrã, acentuada pela importância do uso da plataforma Zoom para
reuniões, encontros e encontrões na #atual situação. Parece que não, não é daí
que vem. Vale-me ao menos saber que não estou só nisto, há mais inocentes como
eu.
O que é certo é que a vida ao ecrã
não foi a única coisa que a dita plataforma veio acentuar. Deu também
rédea larga à reunite, a tendência para fazer reuniões a torto e a direito, por
tudo e por nada, pelo-sim pelo-não -- ou sala-sim, sala-não, que dá para
acumular às 4 à mesma hora e pular de recinto em recinto virtual num
instantinho. E depois fazê-las durar. E durar. E durar. Para lá da pilha. É
assim que às vezes se fica uma pilha -- mesmo tendo consciência que isto é
rabujar de barriga cheia, com recursos que permitem a alguns e algumas ficarem
protegidos em casa, coisa que não está ao alcance de toda a gente.
De maneira que quando o desenrolar do
processo começa a enrolar nalgum particular irrelevante ou as voltas são muitas
e com todo o vagar nos entretantos antes de se chegar aos finalmentes -- conduta
essa adequadíssima noutro tipo de reuniões mas se deveria ater a essas, a fim
de evitar transformar o próximo em Zoomie -- adoto mentalmente duas bandas
sonoras que aceleram e aligeiram todo o cenário e os intervenientes. São como
cócegas virtuais, digamos.
1) Tic Toc Choc, uma espécie de cócegas nas teclas (do piano, mas
convertíveis em teclas de computador), muito bem ilustradas por Alexandre
Tharaud, que além disso atraiu um rapper para espevitar ainda mais esta alegre peça
de François Couperin. Em situação de reunião identifico-me particularmente com
o rapper.
(2 minutos).
2) Playful Pizzicato, as cócegas nas cordas da Simple Symphony (e o termo pizzicato é já todo ele uma cócega em
si), de Benjamin Britten, pela English Chamber Orchestra.
(3 minutos).
Manuela Ivone Cunha
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