sábado, 1 de março de 2014

Ventos de Leste.




 

Vitaliy Klitschko

 
 
No passado dia  21 de Fevereiro, na presença do Ministro dos Negócios Estrangeiros da Alemanha, Franz-Walter Steinmeier, o entretanto deposto Presidente Yanukovich assinou um «acordo de paz» com os líderes da oposição. Entre eles, em posição de destaque, Vitaliy Klitschko. Não é uma personalidade menor, longe disso. Ainda há poucos dias anunciou a sua candidatura às presidenciais, marcadas para 25 de Maio. O seu partido, a UDAR, conquistou 40 lugares nas eleições legislativas de 2012. A UDAR afirma-se contra a corrupção, obviamente, e é de centro-direita, liberal e europeísta.  Em ucraniano, «udar» significa murro, o que é curioso, como veremos já (e obrigado, Eduardo, por esta informação!).
 


 
Klitschko com o Ministro dos Negócios Estrangeiros da Alemanha,
Franz-Walter Steinmeier

 
 
Vitaliy Klitschko e Viktor Yanukovich, na assinatura do acordo de paz

 
 
 
         Vitaliy Klitschko é um antigo campeão planetário de boxe, na categoria de pesos-pesados, que começou a sua carreira no kickboxing, onde foi seis vezes campeão do mundo. Tem a maior percentagem de knockout (87.23%) da história do boxe, a seguir ao lendário Rocky Marciano (87.76%) e é dos pugilistas com um dos mais longos reinados no título de pesos-pesados.  É conhecido como «Dr. Punho de Ferro», por ter esmagado também a concorrência nos ringues universitários, com a obtenção de um doutoramento em Desporto e Ciência na Universidade de Ciência Física e Desportos de Kiev.
 

 
 
 
 
 



 
Vitaliy foi acusado há uns anos de estar envolvido com os mafiosos Viktor Rybalko e Andrey Borovik, de quem seria um agente para a cobrança de dívidas (ver esta notícia aqui, entre outras). Há imagens de um encontro entre todos, ocorrido em 1997. Borovik seria morto em Kiev, alguns anos depois. Rybalko foi morto em 2005. Há também um vídeo no YouTube que mostra um encontro alegadamente ocorrido em Nova Iorque, com Rybalko, Vitaliy e o famoso manager de boxe Don King.
 
 
Don King
 
 
Em Dezembro do ano passado, Klitschko anunciou que abandonava o boxe para se dedicar em definitivo à política. Foi declarado Campeão Emérito pelo World Boxing Council, o que significa que, sempre que desejar regressar aos ringues para disputar o título, não necessita de realizar combates preparatórios. O título WBC encontra-se vago. Klitschko agradeceu ao presidente do WBC o seu apoio, bem como o apoio dado à causa da liberdade e da democracia na Ucrânia. O presidente do EBC era José Sulaimán Chagnón, com origens libanesas e índias norte-americanas, que morreu no passado mês de Janeiro, em Los Angeles. A sua passagem pelo mundo do boxe suscitou enorme controvérsia, com diversas acusações de corrupção, a mais grave das quais sustenta que favoreceu o reinado absoluto de Don King. Não li a autobiografia de Mike Tyson, mas a extraordinária recensão de Joyce Carol Oates a esse livro na NYRB dá-nos uma imagem bastante sombria de King.   
Na vida política, Klitschko foi apoiante do infortunado Viktor Yuschenko e, mais tarde, seu assessor. Candidatou-se a presidente da Câmara de Kiev em 2006, ficando em segundo lugar, com 26% dos votos. Quando, dois anos mais tarde, se candidatou nas eleições locais, contratou como consultor o antigo mayor de Nova Iorque, Rudy Giuliani. Foi uma das figuras mais proeminentes dos recentes protestos na Praça Maidan e anunciou já, como se disse, a sua candidatura presidencial, reiterando uma intenção manifestada em Outubro do ano passado. Não é claro se Klitschko pode candidatar-se, uma vez que, segundo a lei ucraniana, só pode ser candidato quem, nos dez anos anteriores à eleição, tenha residido na Ucrânia. Ora, Klitschko viveu vários anos na Alemanha, a ponto de ter dito, uma vez, «a Alemanha adoptou-me». É verdade. A sua ligação à Alemanha é antiga e profunda.

 
Vitaliy e a mulher, Natalia Egorova
 
Vitaliy Klitschko é filho de um antigo general da Força Aérea da URSS, que foi adido militar na República Democrática Alemã. O general foi um dos comandantes das operações de «limpeza» dos efeitos do desastre de Chernobyl, em 1986, tendo-lhe sido posteriormente diagnosticado um cancro, letal.
 
A família Klitschko
 
Casado com a antiga atleta e modelo Natalia Egorova, pais de três filhos, Vitaliy é irmão de outra figura esmagadora do boxe, Vladimir, que, no que se refere a títulos de pesados, só fica atrás de Joe Louis e Muhammad Ali. Tendo escolhido a Alemanha como terra-adoptiva, onde é uma celebridade, diz-se que em 2004 Vladimir e Vitaliy foram viver uma temporada para Beverly Hills. Vladimir casou aos 19 anos com Aleksandra Avizova mas divorciou-se um ano e meio depois.  O seu portefólio feminino, por ordem de chegada:
 
 
Aleksandra Avizova
 
Diana Kovalchuk
 
A ginasta alemã Magdalena Brzeska
 
 
 
Yvonne Catterfeld
 
 
Karolina Kurkova, na Vanity Fair
 
 
Com Alena Gerber, modelo da Playboy
 
Com a actriz norte-americana Lucy Liu
 
Com a modelo Eveline Samosonchik
 
Com a sua noiva, a actriz Hayden Panettiere
 
Com uma vida amorosa muito preenchida, como se viu, em Outubro de 2013 foi anunciado o seu noivado com a actriz americana Hayden Panettiere, rapariga que entrou no showbizz aos onze meses de idade, num anúncio televisivo. O relacionamento com Vladimir começou em 2009; em 2011 ambos anunciaram uma ruptura amorosa mas em 2013 declararam que, afinal, estavam noivos. No ano passado, Panettiere iniciou um tratamento a laser para remoção de uma tatuagem no braço esquerdo, uma vez que a inscrição gravada na sua pele, em italiano, estava ortograficamente errada. Em 2007, tornou-se uma das apoiantes oficiais das Casas de Caridade de Ronald MacDonald e, também em 2007, destacou-se nos protestos contra os pescadores de golfinhos no Japão, com quem, juntamente com um grupo de surfistas americanos e australianos, se envolveu em confrontos físicos. Em Dezembro de 2013, esteve com o seu noivo Vladimir na Praça Maidan, em Kiev, apoiando o futuro cunhado, Vitaliy, e a causa da democracia e da liberdade.
 



Vladimir Klitschko e Hayden Panettiere, Kiev, Dezembro de 2013
 
 
Os irmãos Klitschko são muito próximos. A este ponto:
 
 

 


 
 
Em Dezembro passado, Vladimir e Panettiere dirigiram-se à multidão revoltosa na praça da capital ucraniana. Há um documentário alemão sobre os irmãos Klitschko, que partilham o amor pelo xadrez e pelas causas humanitárias. Ambos doutorados em Ciências do Desporto, são os dois primeiros pugilistas do mundo a obterem esse grau académico. Vitalyi tem a alcunha de «Dr. Punho de Ferro» e Vladimir a de «Dr. Martelo de Aço».  
A Alemanha atribuiu a Vitaliy Klitschko a sua mais alta condecoração civil, a Ordem Federal de Mérito.
 
 
 

8 comentários:

  1. Fantástico apanhado.
    Mas não se safam, o Putin é mestre em artes marciais e muitas nais coisas
    http://www.funnyordie.com/slideshows/7df05c1f10/pictures-of-vladimir-putin-looking-like-a-complete-badass

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  2. Parecem gêmeos univitelinos, até no pugilismo.

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  3. Obrigado pelos comentários. Esqueci-me de dizer algo talvez importante: a UDAR é, comparativamente com outras, uma força relativamente «moderada» ou «centrista».
    Cordialmente, bom domingo,
    António Araújo

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  4. Off topic: uma pequena notícia, não sei se terá interesse para uma história "à Malomil":

    http://capitalismisfreedom.com/rothschild-heiress-dumps-husband-kids-rap-star-lover/

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    1. Obrigadíssimo, vou ver!
      Com a gratidão,
      António Araújo

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  5. Klitschko - o Challenger

    Vitali Klitschko, que só com o irmão Wladimir já formariam uma temível milícia, é o mais do que provável - se a coisa for por via eleitoral, o que nesta altura do campeonato não é certo, nem seguro - challenger do actual presidente da Ucrânia, Viktor Yanukovich.

    Dois pequenos pormenores lhe são apontados como prováveis handicaps: apesar de ter formado um partido - o UDAR ("murro" em ucraniano) - não tem experiência de desempenho de qualquer cargo público e também não terá dos melhores dotes oratórios.

    Ora, ora, não sejamos beras, quanto ao primeiro só a pescada antes de ser já era e quanto aos dotes oratórios lembro as declarações de um "oficial do mesmo ofício", o pugilista norte-americano Evander Holyfield, a propósito do combate em que Mike Tyson lhe haveria de "comer" quase meia orelha:

    "O meu adversário fala muito e bem. Pena para ele que o boxe seja uma modalidade onde as coisas não se resolvem a falar".

    Na política ucraniana parece que também não.

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  6. O texto anterior corresponde a um post de 22 de Fevereiro no blog "Marx no PS" (www.marxnops.blogspot.com).

    http://marxnops.blogspot.pt/2014/02/klitschko-o-challenger.html

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    1. Muito obrigado pelo seu interesse!
      Cordialmente,
      António Araújo

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