Muito
breve, brevemente, apenas um apontamento sobre os Jerónimos e os seus
elefantes, que, numa excelente monografia dedicada ao Mosteiro, Paulo Pereira
garantem terem sido inspirados no Templo Malatestiano, a catedral de Rimini (obrigado também, Nela San e José Liberato).
Melhor dizendo, o que afirma Pereira é que na capela-mor dos Jerónimos:
os túmulos monumentais de
D. Manuel e de D. Maria (do lado do Evangelho) e de D. João III e de D.
Catarina (do lado da Epístola), fruto de uma composição classicizante, de
pirâmide assente em dois mármore, [é] claramente inspirada nos mausoléus do
Templo Malatestiano de Rimini
(Paulo Pereira, Mosteiro dos Jerónimos, Scala Publishers, 2007, p. 88).
Templo Malatestiano
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O
Templo Maltestiano é uma obra arquitectónica de tal forma densa e complexa, com
tantos laivos de paganismo e mística, que seria necessária uma vida inteira
para a (tentar) compreender. Digamos apenas que foi construído às ordens de
Sigismondo Pandolfo Malatesta (1417-1468), senhor que, além de não ser grande devoto
cristão, foi sendo em vida um audaz condottiere,
conhecido por «lobo de Rimini».
Piero della Francesca, retrato de Sigismondo Pandolfo Malatesta
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Desenhado
em 1450 pelo arquitecto Leon Battista Alberti, o Tempio é uma homenagem de
Sigismondo à sua amante e terceira esposa, Isolla degli Atti. Malatesta quis
que ambos fossem aí enterrados – e daí a tumulária elefantina. Abstemo-nos de
falar de outros elefantes, sobretudo do que está na Biblioteca Malatestiana e
não tem a ver com Sigismondo e, por isso, apenas o mostramos com a sua
inscrição latina; Elephas indis culices non timet, que era o mote e refrão de Domenico Malatesta Novello (1417-1468), senhor de Cesena, que é onde está a Biblioteca (já agora, aqui). Já agora, o brasão Malatesta, e ficamos por aqui pois sabemos
que estas coisas interessam a quem escreve, não a quem lê. Perdão, pois. Mas, já agora, quem quiser mergulhar na heráldica de Sigismondo, prenhe de elefantes, é aqui.
Armas dos Malatesta
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Escultura italiana ou alemã em bronze, século XVI, aqui
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Templo Malatestiano, Rimini
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Sobra-nos
tão-só a dúvida: existindo em vida de D. Manuel uma presença tão frequente de
elefantes, terá mesmo sentido a necessidade de ir buscar inspiração à longínqua
Rimini? É que, segundo a hipótese de Jorge Segurado, o autor dos sarcófagos dos
Jerónimos terá sido Francisco de Holanda, que em matéria de elefantes teve
inspiração directa de Hanno, ofertado por D. Manuel I ao Papa Leão, ou seja,
não careceria, julgo eu, de se ir basear nos proboscídeos de Rimini, opina o
presente ignaro. Matéria que merece estudo mas com a qual não enfadaremos mais
a paciência dos leitores.
A eles gostaria, isso sim, de convidar a uma visita aos Jerónimos, em datas precisas. Como diz Paulo Pereira, em períodos especiais do ano o Sol entra de uma forma muito especial adentro da capela-mor dos Jerónimos, lançando seus fulgentes raios sobre os túmulos de elefantes adornados. É verdade. Há ali um alinhamento equinocial que, durante vinte dias, antes do equinócio da Primavera, bem como entre 28 de Outubro e o trigésimo dia após o equinócio de Outono, produz estranhas luzes, que Paulo Pereira diz terem a ver com uma «mística solar» que resulta da peculiar orientação do dormitório, rosácea e igreja. E, afirma Pereira, tudo sugere que não foi fruto do acaso nem gesto involuntário: quem fez as coisas assim sabia o que o que fazia.
A eles gostaria, isso sim, de convidar a uma visita aos Jerónimos, em datas precisas. Como diz Paulo Pereira, em períodos especiais do ano o Sol entra de uma forma muito especial adentro da capela-mor dos Jerónimos, lançando seus fulgentes raios sobre os túmulos de elefantes adornados. É verdade. Há ali um alinhamento equinocial que, durante vinte dias, antes do equinócio da Primavera, bem como entre 28 de Outubro e o trigésimo dia após o equinócio de Outono, produz estranhas luzes, que Paulo Pereira diz terem a ver com uma «mística solar» que resulta da peculiar orientação do dormitório, rosácea e igreja. E, afirma Pereira, tudo sugere que não foi fruto do acaso nem gesto involuntário: quem fez as coisas assim sabia o que o que fazia.
Damos a palavra a outro erudito que estudou e conheceu o Mosteiro como poucos. Escreve o Padre Felicidade Alves na monografia que dedicou ao mosteiro:
(José da Felicidade Alves, O
Mosteiro dos Jerónimos, vol. 1, Lisboa, Livros Horizonte, 1989)
Eis, portanto, uma boa razão para tentar iludir as intermináveis
filas do turistame e, em chegando Fevereiro, rumar aos Jerónimos. Uma vez lá, admirai
os elefantes, que aos ombros carregam cadáveres de reis e rainhas, por entre
raios de oiro regurgitados pelo Sol, em solene espasmo equinocial.
Agradeço por ter mencionado o meu nome num post que, como sempre, mostra estudos exaustivos.
ResponderEliminarAcho tratar-se d'um previlégio puder admirar os elefantes no equinocio, mas -sobretudo- sem turistame.
PS Palavra "turistame" tem muita originalidade, trata-se duma libertade creativa do Malomil?
Obrigado, uma vez mais. Não, é uma palavra de gíria, em português…
ResponderEliminarMuito cordialmente
António Araújo