Londres, Elephant and Castle
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A
cena passa-se na Ilíria, nos Balcãs, mas uma das coisas mais deliciosas de
William Shakespeare (e de Eduardo Pitta, outro clássico) são estas misturadas baralhadas entre a realidade próxima e territórios ou
épocas distantes. Neste caso muito concreto, o Bardo falava dos «Elephant
Lodgins», uma hospedaria da capital britânica denominada «Elephant and Castle».
Daí derivou o nome da área londrina conhecida justamente por Elephant and Castle – e à entrada do democrático metropolitano lá está uma horrível estátua
de um elefante com um castelinho, a jeito de Joaninha Vasconcelos mas imprópria de um país que tem belíssimas e
antiquíssimas figurações de elefantes com castelinhos, como a que está num
cadeiral do coral da catedral de Chester, do século XIV, e outra, antiga, na catedral de Exeter (onde também há um elefante mais recente num banco catedralício), e ainda outras duas na catedral de Ripon, Yorkshire.
Catedral de Chester
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Catedral de Exeter
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Catedral de Exeter
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Catedral de Ripon, Yorkshire
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Catedral de Ripon, Yorkshire
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Não
se descarta a hipótese, ventilada pela frondosa Wiki,
de o nome ser uma corruptela de «Infanta de Castilla» e, portanto, nada ter a
ver com elefantes e castelos. É possível. Mas também é possível que, em lugar
de damas espanholas, a origem de tudo seja mesmo um elefante com uma torrinha
(a houda ou howdah), e o que para lá
existiu ou existe de elefantes, em teatros e pub’s, é algo de estarrecer. Existe
inclusive uma rede de pub’s que tem esse nome, estando espalhada pelo Reino
Unido – e até em Dublin existe um «Elephant and Castle», lamentavelmente em
queda para o fast food.
Mas foi ali,
ao sul de Londres, que nasceu o primeiro pub Elephant and Castle, não se
sabendo bem o que motivou o proprietário a escolher tal nome. É possível que se
tenha inspirado no emblema e brasão da Worshipful Company of Cutlers, a guilda responsável por regular
e organizar o fabrico de armas e cutelaria, onde o marfim era vulgar (http://www.cutlerslondon.co.uk/hall/).
Cutler's Hall, porta de entrada
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Há quem afirme aqui que
tudo também pode ter derivado do famoso elefante que Luís IX de França ofereceu
a Henrique III e que foi parar à Torre de Londres, mas sobre esse, porque há
tanto e muito para dizer, gostaria de escrever um dia, com mais vagar e detença. Já que não falamos do elefante da Torre (de Londres), um breve apontamento sobre a Torre do Elefante, ou melhor dizendo as torres com esse nome, porquanto há uma em Cagliari, na Sardenha, muito medieva (aqui), e outra em Bangecoque, assaz vanguardista (aqui).
Torre dell'Elefante, Cagliari, Sardenha, século XIV
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Elephant Tower (ou Elephant Building), Banguecoque, 1997
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Charlie Chaplin, The Kid, 1921
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Em
Elephant and Castle teve Charlie Chaplin sua tormentosa infância – e o filme The Kid muito deve à memória da meninice
passada naquela pobre área do sul londrino, onde também nasceu outro paquiderme
da sétima arte, Michael Caine.
Por
ora, ficamo-nos por aqui, com um abraço ao Nuno do
António Araújo
http://www.cocanha.com/archives/2027
ResponderEliminarNão conhecia, muito obrigado!
EliminarBelíssima colecção!
ResponderEliminarObrigado, Onésimo, um abraço amigo!
ResponderEliminarAntónio
De nada.
ResponderEliminarTambém tenho outra leitura da Clara: Cornudo e apaleado mandadle que baile