É um documentário terrível, mas instrutivo.
Instrutivo
sobre o modo como se tratavam, e ainda tratam, os animais de circo. Está na
Netflix e chama-se Tyke. Elephant Outlaw,
e conta a história da elefanta Tyke,
nascida em Moçambique e abatida a tiro, à luz do dia, em Honolulu, Havai, 1994.
Tyke fora maltratada, enlouqueceu, atacou e matou o tratador até ser morta com
várias dezenas de balas, uma carnificina completa que causou tamanha comoção
entre as gentes que nunca mais houve circo com animais por bandas do Havai – e ainda
bem.
Negro intróito para o tema que hoje nos
traz, o elefante de Orsay, que antes disso foi da Porte de Saint-Cloud e antes
disso foi do Palácio do Trocadéro. A história das suas andanças é muito
parecida com a do rinoceronte d’Orsay, já aqui contada, ainda que de pais
diferentes. O rino foi uma criação escultórica de Alfred Jacquemart, o elefante
foi concebido e dado à luz por Emmanuel Frémiet
(1824-1910), a quem se deve a estátua doirada de Joana de Arc, ali à Praça das
Pirâmides, Tulherias, rue de Rivoli, Paris. Já falámos dele aqui, a propósito de um macacão do Jardin des Plantes.
É curioso observar que o que
primeiramente encomendaram a Frémiet para a Exposição de 1878 foi um búfalo
(noutras versões falam de um bisonte), mas como o artista não achou graça à
proposta acabou por vingar o elefante, que foi colocado na fonte monumental
fronteira ao Palácio do Trocadéro e, mais tarde, removido para a Porte de
Saint-Cloud, isto por meados dos anos 1930.
O elefante de Frémiet na Porte de Saint-Cloud
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Após
ter feito a estátua, Frémiet produziu diversas réplicas em miniatura de bronze,
algumas das quais se encontram à venda na Net, a preços que cada um dirá se são
caros, baratos ou assim-assim, como acontece neste caso.
Do mesmo artista, um sinete com a forma de elefante, abaixo exibido:
Sinete com elefante, c. 1880, aqui
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A obra chama-se Jeune Éléphant Pris au Piége pois, na verdade, o elefante está preso
por uma pata traseira, a ser arreliado por um macaco eléctrico. Em estilo
neoclássico e inspiração naturalista, o bicho tem 2,22 m x 3,60 m x 3,12, tendo
sido adquirido em 1878 pelo Service d’achat aux artistes vivants para a
Exposição Universal desse ano. Está hoje frente ao Museu d'Orsay.
Emmanuel Frémiet, Jeune Éléphant Pris au Piége , 1878
Museu d'Orsay, Paris, fotografias de António Araújo
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É um belíssimo exemplar, ainda que sem
o fulgor do portentosíssimo Elefante da Bastilha,
que marcou os céus parisienses entre 1813 e 1846 e do qual iremos falar muito
em breve, assim o esperamos. E, de caminho, um olá à Fonte dos Elefantes
(também chamada «Les quatre sans culs»), erigida em 1838 em Chambéry, Sabóia.
Terras de França, portanto.
Elefante da Bastilha
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Fonte dos Elefantes, Chambéry
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Feliz Ano Novo.
Jules Ernest Renoux (1863-1932), A Torre Eiffel e o Elefante de Fremiet
Museu da Cidade de Paris, Paris
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