segunda-feira, 7 de janeiro de 2019

O elefante d'Orsay.




 

         É um documentário terrível, mas instrutivo.

Instrutivo sobre o modo como se tratavam, e ainda tratam, os animais de circo. Está na Netflix e chama-se Tyke. Elephant Outlaw, e conta a história da elefanta Tyke, nascida em Moçambique e abatida a tiro, à luz do dia, em Honolulu, Havai, 1994. Tyke fora maltratada, enlouqueceu, atacou e matou o tratador até ser morta com várias dezenas de balas, uma carnificina completa que causou tamanha comoção entre as gentes que nunca mais houve circo com animais por bandas do Havai – e ainda bem.





 
 



         Negro intróito para o tema que hoje nos traz, o elefante de Orsay, que antes disso foi da Porte de Saint-Cloud e antes disso foi do Palácio do Trocadéro. A história das suas andanças é muito parecida com a do rinoceronte d’Orsay, já aqui contada, ainda que de pais diferentes. O rino foi uma criação escultórica de Alfred Jacquemart, o elefante foi concebido e dado à luz por Emmanuel Frémiet (1824-1910), a quem se deve a estátua doirada de Joana de Arc, ali à Praça das Pirâmides, Tulherias, rue de Rivoli, Paris. Já falámos dele aqui, a propósito de um macacão do Jardin des Plantes.

         É curioso observar que o que primeiramente encomendaram a Frémiet para a Exposição de 1878 foi um búfalo (noutras versões falam de um bisonte), mas como o artista não achou graça à proposta acabou por vingar o elefante, que foi colocado na fonte monumental fronteira ao Palácio do Trocadéro e, mais tarde, removido para a Porte de Saint-Cloud, isto por meados dos anos 1930. 
 
 
 
O elefante de Frémiet na Porte de Saint-Cloud
 
 
 
Após ter feito a estátua, Frémiet produziu diversas réplicas em miniatura de bronze, algumas das quais se encontram à venda na Net, a preços que cada um dirá se são caros, baratos ou assim-assim, como acontece neste caso. Do mesmo artista, um sinete com a forma de elefante, abaixo exibido:
 



Sinete com elefante, c. 1880, aqui




         A obra chama-se Jeune Éléphant Pris au Piége pois, na verdade, o elefante está preso por uma pata traseira, a ser arreliado por um macaco eléctrico. Em estilo neoclássico e inspiração naturalista, o bicho tem 2,22 m x 3,60 m x 3,12, tendo sido adquirido em 1878 pelo Service d’achat aux artistes vivants para a Exposição Universal desse ano. Está hoje frente ao Museu d'Orsay.  





Emmanuel Frémiet, Jeune Éléphant Pris au Piége , 1878
Museu d'Orsay, Paris, fotografias de António Araújo



         É um belíssimo exemplar, ainda que sem o fulgor do portentosíssimo Elefante da Bastilha, que marcou os céus parisienses entre 1813 e 1846 e do qual iremos falar muito em breve, assim o esperamos. E, de caminho, um olá à Fonte dos Elefantes (também chamada «Les quatre sans culs»), erigida em 1838 em Chambéry, Sabóia. Terras de França, portanto.
 
Elefante da Bastilha

Fonte dos Elefantes, Chambéry

 
         Feliz Ano Novo.
 
 



Jules Ernest Renoux (1863-1932), A Torre Eiffel e o Elefante de Fremiet
Museu da Cidade de Paris, Paris
 
 
 
 
 
 

 

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