quarta-feira, 2 de janeiro de 2019

Prosseguindo com proboscídeos.


 
A French Elephant, Bodleian Library, Oxford
 

 
         Mão à palmatória porque o erro foi crasso: num texto intitulado «Natal Animal» disse, a partir deste artigo de Francisco Bilou, que o elefante de São Pedro da Ribeira poderia ter sido a primeira figuração de tal animal em mais de mil anos de História da Europa, não fora Hieronymus Bosch se ter antecipado com O Jardim das Delícias, pintado circa 1500-1505.
         Bem devia ter visto com mais vagar e vigor um calhamaço que para aqui tenho, El Elefante en la natureza y en la historia, de Karl Gröning e Martin Saller (ed. Könneman, 1998), uma enciclopédia mastodôntica que contém mil e uma coisas sobre elefantes.
Sem pretender dizer qual foi a figuração desse animal mais antiga no Ocidente, concurso fadado ao insucesso, e sem entrarmos no mundo dos bestiários medievais, abundantíssimo em olifantes, recordemos este capitel da antiquíssima igreja de St. Pierre-et-St. Benoît, em Perrecy-les Forges, começada a construir por volta de 1020 e 1030, sendo o capitel dos elefantes datado do século XII.


Igreja de St. Pierre-et-St. Benoît, em Perrecy-les Forges, França
 
 
 
 
Já antes, na Basílica de San Sabino, Canosa di Puglia, o trono de Ursone, bispo de Bari e Canosa entre 1080 e 1089, executado por mestre Romualdo, em estilo bizantino, como se diz aqui e aqui. Ou na fachada da Basílica de San Nicola, em Bari, construída entre 1087 e 1197.
 
Trono do bispo Ursone, Basílica de San Sabino, Apúlia, Itália
 
 
 
Basílica de San Nicola, Bari, Itália
 
 
 
         Em França, um outro capitel do século XII, na igreja de Saint-Pierre d’Aulnay, ponto de peregrinação do Caminho de Santiago, construída entre 1120 e 1140.
 
Igreja de Saint-Pierre d'Aulnay, França
 

 
         Os mosaicos de Otranto são das representações mais extraordinárias do Ocidente medieval. No  pavimento da igreja românica de Santa Maria Annunziata, datam de 1163-1166, sendo de uma tal riqueza e complexidade (e mistério) que nos limitamos a mostrar os elefantes que se encontram na base – e raiz? – da Árvore da Vida.
 
 
 
     
 
 
Mosaicos de Otranto
 

    Ainda que posterior, a catedral (mártir) de Notre Dame de Reims tem um bestiário fabuloso, onde se encontra um elefante do século XIII.


Catedral de Reims, França


 

Também em Paris, na Notre Dame, existiu um elefante medieval, de pedra do século XII, mas o que lá está lá hoje é uma réplica, ainda assim digna de vista:

 
 
Catedral de Notre Dame, Paris
 

 
         Como dissemos, não vamos perder-nos na floresta dos bestiários medievais. Palavra apenas para o maravilhoso Livro das Maravilhas do Mundo, de Marco Polo (e não só), pejadinho de elefantes na edição iluminada existente na Biblioteca Nacional de França (BNF Fr2810), feita por volta de 1410-1412 e destinada a João Sem Medo, duque da Borgonha. Da edição organizada por Marie-Thérése Gousset para a Bibliothéque de l’Image, 2002, retirei os seguintes exemplares:

 
Fólio 59, batalha dos tártaros contra os birmanes
 

Fólio 42v, partida de Kublai Khan de Pequim
 
 
Fólio 33, batalha de Kublai Khan

Fólio 59v, travessia da Birmânia por Marco Polo

Fólio 58, conquista da Birmânia

Fólio 14v, cidade de Ormuz, golfo Pérsico


 
         Regressando a Portugal e Lisboa, uma palavra de agradecimento a Rubem Amaral Jr., amigo do Brasil que conhece como poucos a nossa história e cultura e que chamou a minha atenção para os elefantes dos túmulos da Capela dos Castros, na Igreja de São Domingos de Benfica, ficando aqui a promessa de ulterior pesquisa sobre tão candente assunto. Um abraço, Rubem, Feliz Ano Novo.
 



 

3 comentários:

  1. De nada António. É sempre um prazer para mim colaborar com o Malomil.

    Um abraço e bom ano para você também.

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  2. Em Napoli, no MANN, encotra-se uma estatua tbm dum elefante da guerra, terracotta II-I sec. a.C.
    https://www.beniculturali.it/mibac/export/MiBAC/sito-MiBAC/Contenuti/MibacUnif/Eventi/visualizza_asset.html_41196227.html

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