Paris, ademais, tem uma das mais belas
estátuas de rinocerontes do mundo, hoje em frente ao Museu d’Orsay, como sabeis
(e outra, nas Tulherias, de que também falaremos). E Paris tem muito e muito
animal à solta, em bronze ou em pedra. Já que andamos também em maré de
elefantes, e baseando-os num livro fantástico, Les animaux de Paris, da autoria de Monique Main e Françoise
Perreaux (Paris, ed. Massin, 2007), três elefantes-três nas fachadas da
Cidade-Luz – e não é um levantamento exaustivo!
No nº 3 da rue de la Cossonnerie, junto
aos Halles:
rue de la Cossonnerie, nº 3
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Na esquina entre a avenue de l’Observatoire
e a rue Auguste-Comte:
No nº 2 do boulevard Raspail:
O
rinoceronte que está em frente ao Museu d’Orsay, na entrada, foi obra de Henri Marie Alfred Jacquemart (1824-1896) que, salvo o devido respeito, foi
um grande animalista.
Para
a Exposição Universal de Paris, de 1878, quando já era consagrado e medalhado
com a Legião de Honra, encomendaram-lhe um rinoceronte, com 2,86 metros de
altura e 2,29 metros de comprimento, fundido em Nantes pela empresa J. Voruz
Aîné (que começou na Suíça a produzir pequenas pistolas e espingardas, bem como
sinos para igrejas, tendo mais tarde fabricado estruturas de metal e peças
decorativas de grande porte, como esta, que surpreende pela graciosidade e pelo
movimento).
A
par dele, trabalharam em animais para aquela exposição os artistas Pierre Louis
Rouillard, com um cavalo, Auguste Caïn, com um touro, e Émmanuel Fremiet com um
elefante africano, majestoso, Jeune éléphant pris au piège. Fremiet é, aliás, autor de um orangotango que
está hoje no Jardin des Plantes e que, diz-se, inspirou King-Kong (já falámos
dele aqui no Malomil), estando no Jardin des Plantes outras estátuas zoológicas
de Jacquemart, de leões ferozes.
«Quem entra pela Exposição pela porta do
Trocadero, vasto palácio em hemiciclo com perto de meio quilómetro de extensão,
vê por entre as colunas do peristilo, ao fundo, destacando-se sobre a cidade de
Paris, o edifício do Campo de Marte. Entre o Campo de Marte e o Trocadero passa
o Sena atravessado pela ponte de Iéna. Desce-se a escadaria do Trocadero,
atravessa-se o parque, entra-se na ponte, e está-se no centro do grande
recinto.
(…)
Visto da ponte de Iéna, o palácio de
Trocadero é da mais imponente majestade, com a sua estátua colossal da Fama por Mercier, as suas galerias com
mais trinta estátuas alegóricas e o seu famoso terraço do qual rompe a imensa
cascata, larga como um rio, cujas águas se despenham num lago para se elevarem
outra vez a uma grande altura, pulverizadas no ar por muitos centenares de
repuxos.
Sobre os pedestais do terraço há ainda
seis grandes figuras alegóricas, representando a Europa, a Ásia, a América do
Sul, a América do Norte, a Oceânia e a África. Debaixo da arcada, a estátua do Ar por Thomas e a da Água por Cavalié, do Instituto. Aos quatro ângulos do lago reluzem
ao sol, como esculturas de ouro, de uma magnificência faraónica: o Boi, de Cain; o Cavalo, de Ranillart; o Rinoceronte,
de Jacquemart; o Elefante, de
Fremiet. E estas grandes estátuas, destacando com os seus reflexos fulvos sobre
a verdura da relva, parecem divindades antigas, representando as eternas forças
da Natureza, e presidindo à festa da Humanidade».
(Ramalho Ortigão, Paris. Exposição Universal, 1878-1879, pref. de Maria João Lello
Ortigão de Oliveira, Feitoria dos Livros, 2016, p. 17 e pp. 20-21).
O fim do Palácio do Trocadéro era uma questão de dias, ou anos. Já se dizia no volume relativo a Paris da Encyclopedia pela Imagem (Porto, Chardron, s.d., p. 35) que o Trocadéro «ressente-se do seu destino, porque parece de matéria provisória». Assim, em 1935 o rinoceronte foi colocado na
Porte de Saint-Cloud (é um erro esta informação fornecida aqui).
Dos quatro animais da fonte do Trocadéro, o cavalo, o elefante e o rinoceronte
foram parar à Porte de Saint-Cloud, e o touro enviado para Nimes. Mais tarde, o
rinoceronte foi atribuído ao museu do Louvre, sendo afectado ao museu d’Orsay
em 1986, ano em que foi restaurado pela empresa de fundição de Coubertin,
Saint-Rémy-lès-Chevreuse.
Há quem faça reproduções tridimensionais do rino de Orsay: aqui, por exemplo.
Alfred Jacquemart, Rinoceronte, 1878
Museu d'Orsay, Paris, fotografias de António Araújo
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Há quem faça reproduções tridimensionais do rino de Orsay: aqui, por exemplo.
De Auguste Nicolas Caïn (ou Cain)
(1821-1894), outro grande animalista, autor do touro que foi do Trocadéro para
Nimes, é um outro rinoceronte de Paris, o qual se encontra nas Tulherias em briga
com um tigre – ou melhor, com dois. A estátua é de 1882 mas só foi colocada nas
Tulherias dois anos depois, em 1884. Nas Tulherias, aliás, existem muitas outras
obras animalescas da sua lavra, como Deux lionnes attaquant un taureau (bronze de 1882), Lion et lionne se
disputant un sanglier (bronze de 1878), Tigre terrassant un crocodile
(bronze de 1869 ou 1873) e Tigresse portant un paon à ses petits (bronze
de 1873).
Auguste Cain, Rhinocéros attaqué par des tigres, 1882
Jardim das Tulherias, Paris, fotografias de António Araújo
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No Museu d’Orsay existe, aliás, o
modelo da estátua das Tulherias, feito em cera verde, com a base em madeira, e
uma altura de 44 centímetros e uma largura de 83 centímetros (descrição completa aqui).
Auguste Cain, modelo para a estátua Rhinocéros attaqué par des tigres
Museu d'Orsay, RF 1904
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Jaquemart foi ainda autor, entre muitas
obras, de dois leões monumentais que estão no Cairo, à entrada da Ponte Kasr el Nil, ainda que tenham sido apeados do pedestal onde originalmente repousavam.
Foram palco de protestos na revolução de 2011.
Já falámos de leões monumentais no Malomil, os de Madrid (aqui) e, acima de tudo,
o de Berlim/Wannsee (aqui), mas agora é tempo de rinocerontes e, de quando em vez, do
seu lendário inimigo, os poderosos elefantes. A seu tempo falaremos do olifante d'Orsay, que o merece. Até lá, Bom Ano.
Gosto destas suas "obsessões".
ResponderEliminar(e nunca tinha reparado que haviam tantos animais de grande porte por aí espalhados)
Obrigado, nem imagina o que para aí vai!
ResponderEliminarMuito cordialmente, votos de Bom Ano
António Araújo