quinta-feira, 18 de janeiro de 2018

A História é um lugar estranho (Japão, 1945)

 
 
 
 

Estava a passar por ali e vi um menino de uns dez anos, mais ou menos, com um bebé preso na suas costas. Naqueles dias, no Japão, era uma imagem habitual das ruas: crianças com os seus irmãos pequenos atados às costas. Mas aquele menino tinha algo diferente. Parece que esperava alguma ordem ou a sua vez.

Estava descalço e a expressão de seu rosto era muito dura. A cabeça do seu irmãozinho estava inclinada de lado, num sono profundo. O menino permaneceu assim durante mais de cinco minutos.

De repente, alguns homens vestidos de branco e com máscaras aproximaram-se dele e desataram as correias que sustentavam o bebé. Nesse momento senti um frio na espinha ao dar me conta de que estava morto. Apanharam-no e depositaram-no em cima de uma pira funerária onde queimavam os corpos.

O menino ficou ali, sem fazer um movimento, a olhar as chamas. Mordia o lábio inferior com tanta força que chegou a sangrar. Depois deu meia volta e foi embora sem dizer um A.
 
Joe O’Donnel, autor da fotografia (aqui e aqui)
 
 

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