Igreja da Abadia de Grimbergen, Bélgica, 26 de Julho de 2016
Louis-François Métra (1738-1804) foi um jornalista francês, autor da Correspondência
literária secreta, em que reproduzia ou imaginava correspondência ou
discussões entre vultos célebres do pensamento da época. A sua ousadia levou-o
mesmo ao exílio.
Um desses diálogos é entre Diderot (1713-1784) e Voltaire (1694-1778). O
tema é Shakespeare.
Diderot defendia acaloradamente o autor inglês, acumulando os traços de
génio que justificavam a sua admiração.
Não o compreendo, diz Voltaire com humor, nem compreendo como vocês se
apaixonaram por esse farsante. Estou mesmo persuadido que sem hesitar vocês lhe
dão a preferência em relação a tudo o que nós produzimos nesse género.
Não, riposta Diderot, não sou suficientemente injusto para comparar o Apolo
de Belvedere com o São Cristóvão de Notre Dame. Mas convenhamos que, apesar de
todos os seus defeitos, este colosso gótico tem qualquer coisa de venerável e
imponente.
Podem dizer-me, interrompe Madame Diderot, o nome do operário que produziu
esse monumento?
Não sei, respondeu Diderot após ter procurado lembrar-se durante algum
tempo, mas foi um pedreiro, acrescentou.
Ah sim, foi um pedreiro, prosseguiu Voltaire, um pedreiro está muito bem
dito!
Sim senhor, repisou Diderot, não era senão um pedreiro, mas os homens mais
altos podem passar entre as pernas do seu colosso.
Esta discussão foi publicada em 26 de Agosto de 1778. Demonstra como o debate acerca da estátua de São Cristóvão e o seu carácter rude estava bem
presente entre os pensadores franceses.
José Liberato
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