quarta-feira, 17 de janeiro de 2018

Debaixo de Manhattan.

 
 
 
Anda tudo encantado – e bem – com um livro de Erling Kagge que já aqui referi, creio eu. Silêncio na Era do Ruído, muito ao gosto new age e da filosofia light, para o que contribui, e muito, a personagem do autor, «a fascinating man», como o descreveu o The New York Times. Jurista, filósofo, explorador averbado no Guinness, editor de sucesso, coleccionador de arte contemporânea, Kagge fala das filhas com a ternura de pai extremoso e vive numa casa soberba em Oslo, rodeado de quadros e beleza. Depois, claro, a sua própria beleza física, o seu olhar a um tempo distante e profundo, olhos que viram mundo, estiveram no Pólo Sul, no Pólo Norte, olhos que subiram ao Evereste. E, como remate final da lenda, o facto de ser nórdico, de uma região que está tão fashion e onde supostamente reside a maior percentagem de felicidade do planeta. Vem isto a propósito de um livrinho que comecei a ler e que é, até agora, muito engraçado e merecedor de atenção. Chama-se Under Manhattan, é escrito por Kagge e polvilhado por muitas fotografias de Steve Duncan, um dos seus companheiros desta aventura subterrânea. Em Silêncio na Era do Ruído Erling Kagge já falava desta expedição de cinco dias pelos canais de esgotos de Nova Iorque, com direito a uma escalada furtiva à Williamsburg Bridge. O livro não tem a tonalidade elegíaca de Silêncio na Era do Ruído nem se entrega a especulações divagantes. Aqui, a deambulação é puramente física, e narrada como uma aventura nos trópicos ou uma viagem ao centro da Terra. As vias que seguiram, as dificuldades de percurso, a preparação do mergulho no lixo e nos excrementos de milhões de animais humanos, os túneis centenários plenamente conservados, as criaturas que vivem onde o sol não chega. Um livro muito interessante, repito, que distrai e serve de lenitivo calorífero quando o frio aperta e a chuva, que é tempo dela, nos retém em casa.  

 


 
 

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