Aqui há uns anos, andando em Cracóvia,
deparei com um rinoceronte em pleno centro histórico que por lá chamam Stare
Miasto. Um, não. Dois rinocerontes, a mais o inimigo elefante, na frontaria de
uma casa na Rua Grodzka. Depois, reparando melhor, notei que havia outro,
ademais não idêntico, na mesma casa, mas agora na fachada que dá para a Rua
Poselska. A coisa adensa-se pois não longe dali está o Museu de História
Natural, que alberga um rinoceronte antiquíssimo, mas esse não entra na
história. Pelo que pude perceber (mal), a
casa que faz esquina entre o 38 da Rua Grodzka e o 19 da Rua Poselska chama-se Kamienica Pod Elefanty e refere a Wikipedia que remonta ao
século XV. Gostava de saber mais polaco para saber a história da casa, mas não
sei, nem o livro de Juan Pimentel fala sequer de Cracóvia. Como é evidente, os rinocerontes e o elefante da fachada não podem estar
lá desde o século XV. Talvez século XVI ou XVII. Em todo o caso, lá estão,
como em Nuremberga está – via há muitos anos – a gravura de Dürer na casa-museu
deste génio.
Cracóvia. O elefante ladeado por dois rinocerontes.
|
O elefante.
|
Os dois rinocerontes.
Repare-se como são diferentes, a ponto de se dizer que um é um rinoceronte de Sumatra.
|
O que eu não sabia de todo – e foi o livro de Juan Pimentel
que mo ensinou – é que a representação mais antiga de um rionoceronte no Novo
Mundo está na Colômbia. Em Tunja, província de Boyacá, na casa-museu do escritor Juan de Vargas, que chegou ao país em 1564. O tecto foi pintado em 1590,
à maneira maneirista, e a figuração do rinoceronte que lá está é tirada, sem
sombra de dúvida, da gravura de Dürer – ou das muitas cópias feitas por outros e
até edições piratas que se fizeram na altura. Outra coisa que Juan Pimentel não
diz, mas que fui descobrindo e sobre a qual não tenho certezas nenhumas, é que
em Tunja há um outro rinoceronte. Talvez até mais antigo do que o da casa de
Juan de Vargas, ainda não pude apurar (se alguém tiver o livro de Mejía Los Rioncerontes de Colombia é favor de
emprestar). É a Casa de Gonzalo Suárez Rendón, também Casa del Fundador, pois em
1539 Rendón foi o fundador da província de ,Boyacá daí o nome. A casa foi erguida entre 1540 e 1570, sendo
portanto mais antiga ou pelo menos contemporânea da casa de Juan de Vargas. E
também tem tectos pintados. E também num desses tectos está um rinoceronte,
mais tosco, menos Dürer.
Tunja, Colômbia. Casa de Juan de Vargas
|
Elefantes
|
Tunja, Colômbia. Casa del Fundador.
|
Elefante.
|
Rinoceronte.
|
Fica a promessa de que mais pesquisas. Por ora, a partilha
do assombro: um rinoceronte que veio da Índia, passou por Lisboa, foi metido
num navio, fez escala em Marselha onde foi apreciado pelo rei da França,
naufragou e morreu afogado já à vista da costa de Itália, para onde ia a
caminho de Roma, obviamente a ver o Papa. Rinoceronte que está na Torre de
Belém, idem em Nuremberga na casa de Dürer, artista que o retratou em gravura best-seller. Daí rumou à Polónia, Cidade
Velha de Cracóvia, mas também à distante Colômbia, onde figura em pelo menos
duas casas da cidade de Tunja, província de Boyacá. Se isto não é universalismo
e globalização, se isto não foi mesmo um século dos prodígios, dizei então vós, de vossa justiça.
Obrigado pela publicidade indirectamente feita ao livro, mas o seu a seu dono. A ideia de usar o rinoceronte de Dürer foi do editor da Quetzal, o Francisco José Viegas. Bela ideia, pensei eu, mas só depois. Acho até que foi pela capa que a Academia Portuguesa de História lhe deu um prémio. Disse isso na graça na sessão da Academia e já me vieram dizer que é capaz de eu ter ofendido o júri. Aproveito para pedir desculpa se ofensa houve.
ResponderEliminarUm abraço grato do
O.
ResponderEliminarObrigado, Onésimo! E as minhas desculpas, Francisco…
Abraço aos dois,
António