Esta não foi, como é evidente, a primeira vez que os elefantes foram usados como ornatos e expressão de poder ou fama. Em Lisboa, por exemplo, basta ver a estátua equestre de Dom José, da autoria de Machado de Castro, que na base tem um paquiderme indiano, justamente em alusão à Fama (cf. os diversos trabalhos que Miguel Figueira de Faria tem dedicado ao tema, de que se pode citar «A “Epopeia da Escultura” de Machado de Castro», in AA.VV., O Virtuoso Criador. Joaquim Machado de Castro, 1731-1822, Lisboa, 2012, pp. 103ss). Ficamos sempre contentes por saber que: (1) – ao contrário do que se julgava, no passado mês de Junho de 2018, os furiosos adeptos de um jogo Portugal-Espanha, só destruíram um e não quatro dos dedos dessa estátua equestre, uma vez que (2) os outros três dedos já estavam partidos e, melhor ainda, (3) a CML só vai fazer o restauro se encontrar o dedo em falta, o que, digamos, não será assim muito provável. NO ENTANTO, CASO ALGUM LEITOR TENHA EM SUA CASA UM DEDO DA ESTÁTUA EQUESTRE DE DOM JOSÉ I, DA AUTORIA DE JOAQUIM MACHADO DE CASTRO, AGRADECE-SE A FINEZA DE O ENTREGAR NA PRAÇA DO MUNICÍPIO.
Thomas Nast, 1881
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Thomas Nast, Harper's Weekly, 1863
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Como todos sabem (ou se não sabem podem
saber indo à Wikipedia, como eu), a representação moderna do Pai Natal não foi uma criação da Coca-Cola mas do
cartoonista norte-americano Thomas Nast (1840-1902) - e, já agora, do
poema A Visit from St. Nicholas,
da autoria do professor nova iorquino Clement Clarke Moore,
ainda que a matéria seja controversa, como agora é – ou parece ser – o próprio
Natal.
Thomas Nast, «The Third Term Panic», 1874, inspirado numa fábula de Esopo, a figuração do Partido Republicano como elefante |
A Nast é atribuída a autoria da figura do
Tio Sam, entre outras, o que não é verdade, mas enfim. Considerado o pai da
caricatura política dos EUA, onde usou muitos bichos nas mais diversas cenas,
macacas e não só, Nast foi, isso sim, quem pela primeira vez figurou os
Republicanos como elefantes (o que, no caso de Trump, não está de todo mal
visto ainda que seja uma ofensa para os elefantes). A ele se deve, portanto, o
símbolo do Partido Republicano, mas não – e ao contrário do que por vezes se
diz – o burro dos Democratas.
Esta não foi, como é evidente, a primeira vez que os elefantes foram usados como ornatos e expressão de poder ou fama. Em Lisboa, por exemplo, basta ver a estátua equestre de Dom José, da autoria de Machado de Castro, que na base tem um paquiderme indiano, justamente em alusão à Fama (cf. os diversos trabalhos que Miguel Figueira de Faria tem dedicado ao tema, de que se pode citar «A “Epopeia da Escultura” de Machado de Castro», in AA.VV., O Virtuoso Criador. Joaquim Machado de Castro, 1731-1822, Lisboa, 2012, pp. 103ss). Ficamos sempre contentes por saber que: (1) – ao contrário do que se julgava, no passado mês de Junho de 2018, os furiosos adeptos de um jogo Portugal-Espanha, só destruíram um e não quatro dos dedos dessa estátua equestre, uma vez que (2) os outros três dedos já estavam partidos e, melhor ainda, (3) a CML só vai fazer o restauro se encontrar o dedo em falta, o que, digamos, não será assim muito provável. NO ENTANTO, CASO ALGUM LEITOR TENHA EM SUA CASA UM DEDO DA ESTÁTUA EQUESTRE DE DOM JOSÉ I, DA AUTORIA DE JOAQUIM MACHADO DE CASTRO, AGRADECE-SE A FINEZA DE O ENTREGAR NA PRAÇA DO MUNICÍPIO.
Além deste pedido, não vamos martirizar
muito os leitores, decerto no afogadilho das filhoses, com muito mais histórias
sobre elefantes, mas aqui ficam, por pouco conhecidos, os desenhos feitos por
Rembrandt de um paquiderme, em 1637 (mais precisamente, da elefanta Hansken).
Rembrandt, desenhos da elefanta Hansken, 1637
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Hanno, desenhado a partir do fresco de Rafael (c. 1514)
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Mais conhecido, mas com a ventura de
ter sido português, enviado pelo Venturoso ao Papa, um desenho feito a partir de um fresco de Rafael, o
próprio, que muito provavelmente nunca soube que o mesmíssimo exemplar
elefantino está pintado em São Pedro da Ribeira, concelho de Montemor-o-Novo (já falámos dele, aqui),
naquela que, de acordo com um estudo de Francisco Bilou, disponível aqui,
poderia ter sido a primeira figuração de tal animal em mais de mil anos de
história da Europa. Infelizmente, Hieronymus Van Aeken Bosch antecipou-se e
colocou um elefante africano a pastar no Jardim das Delícias, em pintura de c.
1500-1505, diz-se que eventualmente o ter visto «por interpretação de modelos
visuais portugueses divulgados a partir da feitoria de Antuérpia» (Francisco
Bilou, ob. cit.; ver também este artigo de Jorge Fonseca). Se for verdade,
ponto que gostaríamos de analisar num próximo fascículo desta série animalesca,
seria um grande trunfo lusitano, quase tão grande como a luta entre o elefante
e o rinoceronte que o Venturoso patrocinou na Baixa lisbonense.
Igreja de São Pedro da Ribeira, concelho de Montemor-o-Novo
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É que, provavelmente sem se aperceber
disso, ao promover a luta entre elefante e rinoceronte, Dom Manuel I dava
expressão a uma antiquíssima lenda, de que Plínio foi dos principais se não o
principal divulgador. No Livro VIII da História
Natural, Plínio diz que nos jogos de Pompeio Magno, apareceu um
«rinoceronte de um só corno no nariz», ou seja, um exemplar indiano, e que ele
era «o segundo inimigo natural do elefante [o primeiro eram os dragões]; depois
de afiar o seu corno contra as pedras, prepara-se para a luta e busca acima de
tudo o ventre, que sabe ser mais vulnerável». Citamos a edição da História Natural das Ediciones Cátedra
(Madrid, 2ª ed., 2007, pp. 86-87), a qual nos informa que Aristóteles não
conheceu o rinoceronte indiano, mas que este é referido por Agatárquides (De mari Erythraco 71) e por Lucílio (Sat. 3, 8), havendo ainda testemunhos da
sua aparição em espectáculos nas obras de Suetónio (Augusto 43) e Marcial (De spectaculis, 9 e 22).
Era, pois, muito ilustre, ilustríssima,
a genealogia do combate entre o elefante e o rinoceronte que, assevera o
próprio, Damião de Góis presenciou. Nele participou Ganda de Modofar em
representação dos rinocerontes, a qual seria retratado por Dürer, o qual, como
isto anda tudo ligado, fez também o retrato de Damião de Góis, espectador da
histórica refrega. Voltaremos ao tema, para falar de miniaturas persas, e não
só.
Fui visitar a Ermida em Montemor depois ter lido o post de Vc. E' verdadeiramente pena o estado com que fica a Ermida (sobretudo depois do sisma de Arraiolos de Janeiro 2018). Acho que, por ter um fresco tao importante, deberia ser feito algo (e depressa) por ameliorar o estado da estrutura.
ResponderEliminarsem dúvida… Boas Festas!
ResponderEliminarMuito interessante. Obrigado.
ResponderEliminarA propósito, a confusão do Pai Natal com a Coca-Cola deve-se ao facto de aquela empresa ter sido responsável por dar a cor vermelha às vestes daquela personagem, que se tornou marca.
Exacto! Recomendo a leitura do livro «Christmas», de Tara Moore
ResponderEliminarBoas Festas
O retrato de Góis aqui reproduzido é uma gravura que se encontra inserta no exemplar do livro Lovaniensis Obsidio, da Biblioteca Nacional. O retrato da galeria Albertina, de Viena, é o desenho original, que é atribuído a Dürer (não há a certeza), com base no qual, ou numa sua cópia, foi mais tarde feita esta gravura por Philips Galle. Também há muitas dúvidas de que o retratado seja Damião de Góis...
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