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Como
já não tinha pão, Marcelino bebeu vinho. Apeou-se quase embriagado na
estrada que curva no Guincho. Ventava muita areia, como sempre. Quando
respondera ao anúncio, nunca imaginara que era para entrar de personagem em textos
idiotas e pretensiosos, literatices da treta efémera, largadas na internética. Estar num call-center, numa pastelaria, ainda
vá… agora isto?!! De súbito, viu o mar. Ondas grandes, maiores que o déficit.
Abriu-se-lhe a boca num espanto, um espanto mudo, pois julgou avistar no horizonte o subsídio
de Natal de regresso à costa. Puro engano. Encontrava-se nesta parvoeira quando
uma onda rebentou mesmo ali à sua beira, deixando-o todo encharcado: foi camisa,
foi gravata, foi casaco, aquilo foi mar adentro até aos bolsos das calças, por sinal
vazios. Estes putos loiros com as
pranchas de vela, fatinhos especiais… Lembrou-se então dos colegas que
conhecera em Letras (vertente Germânicas). É
que, se são precários hoje, vão ser precários toda a vida. Mesmo que isto
melhore um pouco, lá para 2016 ou 2017, mesmo que deixem de ser precários, vão continuar
a sê-lo até ao fim da vida… Este tempo perdido já ninguém o devolve. E, depois,
nem sequer me fizeram os descontos… Em chegando a velhos… Logo agora que se chega a velho cada vez mais tarde; estão mesmo
tramados, estes… Marcelino, que fizera sempre os descontos, sentia-se
perdido no meio de tantas palavras nos seus pensamentos de fantasia lúcida. Devia era ter escrito uma coisa confessional, a puxar ao sentimento, um
textinho de gaja, a coisa fazia-se bem, com estas fotografias tão lindas… Sendo
assim, calou-se. E lá ficou o texto sem texto. Só restou o dia, que caía, e as
fotografias, lindas, que são do
João
Cortes
....acho q dava um filme bem actual – ‘o fabuloso destino de Marcelino’
ResponderEliminarEscrito por AA .......podes começara escrever o guião (sff não o deixes morrer na praia do guincho - hoje - o Marcelino tem mt para dar)
gd abraço
joao cortes