quarta-feira, 14 de novembro de 2012

O drama Žižek.








Slavoj Žižek





Nascido na Eslovénia em 1949, mas tendo ensinado e conquistado fama nas universidades do Ocidente, Slavoj Žižek é um dos pensadores mais populares do nosso tempo. A sua característica mais relevante é precisamente essa, a de ser um pensador popular. Esta extraordinária popularidade (já foi chamado de «Elvis of cultural theory»…) deve-se a muitos factores, desde uma cuidadosa encenação da sua personae pública até uma assombrosa produtividade intelectual. A tudo isto junta-se, claro está, a iconoclastia das opiniões e a assertividade proclamatória de algumas das suas afirmações, bem como o facto de saber, como poucos, arquitectar um discurso que facilmente seduz porque cruza diversos «saberes» e convoca tópicos conhecidos da cultura de massas, em que as massas se conseguem rever sem esforço, mesmo que não tenham lido uma linha de Hegel ou Lacan. Enfim, um ícone do nosso tempo. Além do filme Žižek! (2005), existe até, imagine-se, um International Journal of Žižek Studies. Em Portugal, muitas das suas obras estão traduzidas e são um sucesso de vendas. Recentemente, a propósito do seu último livro, Less Than Nothing: Hegel and the Shadow of Dialectical Materialism, o insuspeito John Gray, nas páginas da igualmente insuspeita The New York Review of Books, desferiu um ataque demolidor à obra de Žižek, demonstrando o carácter intrinsecamente violento do seu pensamento. Žižek respondeu, dizendo que as citações da sua obra feitas por Gray eram parciais e truncadas. Mas não desmentiu que a sua apologia da Revolução Cultural chinesa como «a última explosão verdadeiramente revolucionária do nosso tempo», a sua admiração – partilhada com Badiou – pelo Terror da Revolução francesa, a sua tese de que Hitler não era «suficientemente violento». Cultor de paradoxos e frases desconcertantes que cativam legiões de fiéis, vai ao ponto de afirmar que Heidegger era um filósofo «estranhamente próximo do comunismo», um «futuro comunista». E enaltece os Khmer Vermelhos, apesar de entender que, à semelhança de Hitler, não eram suficientemente violentos. Poder-se-á dizer que estas afirmações de Žižek necessitam de uma contextualização que faça justiça à densidade do seu pensamento. Simplesmente, não há contextualização possível para a defesa da violência. Violência é violência – e ponto final. A menos que se argumente que, ao aludir à violência, Žižek  pretende apenas ser provocatório. Mas, se é assim, não passa de um clown cultural. Aí reside o seu maior drama: no fim de contas, o radicalismo inflamado do verbo de Žižek faz parte, afinal, do «sistema» que o filósofo esloveno pretende destruir. Acabando por servir o capitalismo e a cultura de massas, o seu projecto está, assim, condenado ao fracasso, por muito grandiosa que seja a sua popularidade.  O seu êxito comercial é a medida exacta do seu falhanço intelectual. 
António Araújo

Comentário de Gonçalo Almeida Ribeiro:

Concordo com (quase) tudo o que escreves. O Žižek esteve em Harvard em 2007 a falar sobre Freud e revelou a todos os espíritos desassombrados na audiência a pinta de demagogo. É um intelectual provocador – um cultor da máxima "épater le bourgeois" mas sem o compasso político, o rasgo criativo e a classe literária de outros que alimentaram o mesmo desígnio heróico. É efectivamente um palhaço: vende aos jovens nerds, em idade do armário atrasada, um vandalismo ideológico que os faz sentirem-se redimidos da vida de privilégio de um estudante universitário na Ivy League. Ironicamente, apesar de se declarar um materialista dialéctico – uma pilha de cretinices metafísicas que Engels acrescentou ao materialismo histórico de Marx e que os Soviéticos elevaram à condição de “doutrina oficial”   Žižek é, de um ponto de vista marxista clássico, o típico bobo na corte da ruling class: canaliza a angst dos putos para o pensar radical, contra o espírito praxístico da Tese XI sobre Feuerbach. (Está – nesse aspecto, ainda bem – a milhas de distância do pensamento revolucionário de Lenine…).  De um ponto de vista não-marxista, Žižek é apenas um burlão ideológico ou um sofista alarvado. Só discordo de ti quando sugeres que a violência é indefensável. É-o enquanto fim em si mesmo, como forma de redenção espiritual através da dor, Aufhebung do logocentrimo através da materialidade  radical, ou qualquer outra imbecilidade – perigosa – equivalente. Mas (pace Hobbes e Kant) a violência contra a injustiça grosseira ou o terror de Estado é justificada; não me choca nada a velha doutrina do tiranicídio. Já para não falar do facto da ordem política implicar a violência, ainda que uma violência regulada.

Gonçalo Almeida Ribeiro

5 comentários:

  1. Oh! deus! O estilo "Blásfémias" chegou ao Malomil. Não agradeço ao primarismo de um tal Gonçalo Almeida Ribeiro que não acrescenta no seu texto uma ideia, limitando-se a encenar (como o Zizek) uma sucessão de acusações e palavreado inútil. Lamentável! que baixo nível!

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  2. Caríssimo A. Araújo, descontando o infeliz desprimor, e mesmo alguma vulgaridade, verdadeiramente, este texto não passa de uma tentativa Zizekiana acerca de Zizek!! Estou em crer que até o próprio (Zizek) poderia concordar consigo, por entre garrafas do melhor tinto!!
    Mas para juízo tão peremptório, à laia de galgo inflamado, falta ali um poema e uma ideia definitiva sobre oposto ao que quer que seja que possa, o meu caro, entender das deambulações do Zizek!!
    E isto "Simplesmente, não há contextualização possível para a defesa da violência."!? Mas que prosa vazia será esta!!??
    No fundo, e por ser um seu, do caríssimo Araújo, leitor habitual, este meu comentário será apenas um desabafo!! Um desabafo de desagrado por o haver em muito melhor conta e capaz de elaborar melhor desdém ao Zizek!!
    Cordialmente, Justiniano

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    1. Muito obrigado pelas suas palavras, que não mereço. O texto faz um link para um texto de John Gray que, esse sim, procede a uma crítica desenvolvida ao trabalho de Zizek. Pedia-lhe que lesse esse texto de John Gray.
      Cordialmente,
      ANtónio Araújo

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    2. O caríssimo A. Araújo é merecedor de todas as minhas palavras, com estima e elevada consideração.
      Eu aprecio Zizek na mesma medida em que Zizek aprecia Chesterton (Eu prefiro o Chesterton)!!
      O exagero e estultície, de Zizek, são inatacáveis (Gray reconhece-o e, de certo modo, enaltece-o com suficiente sobriedade)!!
      Zizek, um liberal desencantado com o liberalismo!! Um tipo com horror ao vazio!! E é desse horror ao vazio que, mais das vezes, parte o sentido proclamatório às obsessões definitivas, no sentido em que apenas aquelas poderão revelar verdade ou preencher o vazio (amor, violencia...)!!
      O título engana o texto, do Gray!! O texto, crítica, de Gray está exíguo mas aceitável (cai no erro da discussão de factos da história, mas aceita-se..)!!
      O texto de J. Gray aponta, e bem, as platitudes e contradições do Zizek, que são abundantes (mais que reconhecidas eplo próprio...)!! O que me parece, respeitosamente, é que o meu caro A. Araújo quer utilizar aquele texto para o secundar nos precisos pontos em que aquele não está lá, em substancia ou na forma!!
      Falta-lhe violencia à sua crítica!! O desdém sai um bocado desencantado!!
      Cordialmente, Justiniano

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    3. O caríssimo A. Araújo é merecedor de todas as minhas palavras, com estima e elevada consideração.
      Eu aprecio Zizek na mesma medida em que Zizek aprecia Chesterton (Eu prefiro o Chesterton)!!
      O exagero e estultície, de Zizek, são inatacáveis (Gray reconhece-o e, de certo modo, enaltece-o com suficiente sobriedade)!!
      Zizek, um liberal desencantado com o liberalismo!! Um tipo com horror ao vazio!! E é desse horror ao vazio que, mais das vezes, parte o sentido proclamatório às obsessões definitivas, no sentido em que apenas aquelas poderão revelar verdade ou preencher o vazio (amor, violencia...)!!
      O título engana o texto, do Gray!! O texto, crítica, de Gray está exíguo mas aceitável (cai no erro da discussão de factos da história, mas aceita-se..)!!
      O texto de J. Gray aponta, e bem, as platitudes e contradições do Zizek, que são abundantes (mais que reconhecidas eplo próprio...)!! O que me parece, respeitosamente, é que o meu caro A. Araújo quer utilizar aquele texto para o secundar nos precisos pontos em que aquele não está lá, em substancia ou na forma!!
      Falta-lhe violencia à sua crítica!! O desdém sai um bocado desencantado!!
      Cordialmente, Justiniano

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