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Estar
no sítio certo à hora marcada pelo destino aconteceu esta tarde quando saía do
Macurungo por uma estrada de terra batida, ao mesmo tempo que o tique-taque de
um selecto Jaguar. Nas ruas movimentadas daquele subúrbio típico da cidade da
Beira, em Moçambique, como nas restantes, já me tinha cruzado pouco antes, como
quase todos os dias, com águas paradas, lixeiras a céu aberto, animais
domésticos que andam por ali, entre galinhas e cães, casas demasiado próximas
umas das outras, pessoas que transportam água em bidões porque não é de acesso
fácil, mercados de rua sem grandes cuidados higiénicos onde um dos negócios
habituais é a venda de fritos e bolos prontos a comer, preparados e expostos ao
ar livre, pelos vistos com muita procura, ou pessoas que atiram lixo para a tâmega,
como designam os canais de esgotos a céu aberto em homenagem a uma empresa do
tempo colonial. E moscas. Muitas. Invariavelmente faz também parte da paisagem
um sem-número de crianças de todas as idades, mesmo em horas de escola. Pairam
simplesmente por ali. Está certo que algumas preocupadas em despachar os tpc’s
à vista da vizinhança e dos transeuntes. Depois, para reconfortar a vista, não
me fez mal ver uma cápsula asséptica de ar-condicionado quase silenciosa, saída
de um mundo aparentemente paralelo. Perante isto, a comunidade internacional
discutirá vivamente a corrupção. Talvez quando o Jaguar for arrancado ao dono
pela justiça de um tribunal internacional ou quando vier uma qualquer revolução
e o preço da sua venda for repartido em migalhas por aqueles pobres, o seu
mundo ficará melhor. Quem sabe bem. Os pobres alcançarão justiça. Pelo que é
comum dizer-se, num mundo justo o dinheiro seria sobretudo deles, não fossem os
desvios imorais de uns pouquíssimos homens e mulheres seduzidos pela ganância.
Entretanto, muitos mais anos passarão e continuaremos a fazer vista grossa à
questão da natalidade. O maior problema daquela paisagem naquele momento não
era o Jaguar. Bem pelo contrário. Pelo menos para mim e para outros que olhavam
entre o divertido, o respeitoso ou o indiferente.
Gabriel Mithá Ribeiro
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