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Não sendo rara ou sequer incomum, a história de
Walter é das mais desconcertantes que já contei no Malomil. Walter nasceu e viveu poucos minutos, e os pais decidiram contar a história da sua nascença e morte e publicar estas fotografias que não devem ser vistas por pessoas impressionáveis. Ninguém tem o
direito de criticar a opção dos pais de Walter. Poderão dizer que é mórbida e
macabra, mas também poderão dizer que esta foi a forma que os pais de Walter
encontraram para expressar o seu amor por ele – ou exorcizar a dor pela sua ausência.
Poderão dizer que esta é uma exposição inconcebível da intimidade. Mas quem,
senão o próprio, define o que é a sua
intimidade? Bem, e basta ir ao Google e fazer dois clic's na palavra porn e encontrarão muita e muita
exposição de intimidade por essa Net fora. Será legítimo impor que o luto seja
íntimo e privado? Não. Antigamente, o luto era escandalosamente público, com
choros gritados e carpideiras de serviço. Depois, a morte tornou-se matéria
sigilosa, classificada, que deveria ser resguardada dos olhares alheios. Agora,
é exposta assim, desta forma. Mas será a morte o que aqui verdadeiramente se expõe? Não sei,
nem sequer isso sei. Daí o meu desconcerto perante a história de Walter. Quem
quiser, opine. Eu não consigo.
António Araújo
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