Nos 300 Anos de Luís António Verney, uma conversa com Octávio
dos Santos, um dos elementos da organização das comemorações.
P - Que sentido faz comemorar, nos nossos dias, o
tricentenário do nascimento de Luís António Verney? Que importância teve - ou
tem - para a cultura portuguesa?
Se faz sentido - e sem dúvida que faz -
comemorar, assinalar, relembrar nos nossos dias «grandes aniversários» - 25, 50,
100, 150, 200 anos... - do nascimento e/ou do falecimento de
grandes vultos da nossa História e da nossa Cultura, como, entre muitos outros,
Fernando Pessoa, Eça de Queiroz, António Vieira, também faz sentido (tentar)
prestar uma homenagem semelhante a Luís António Verney que é um dos autores
mais importantes da nossa literatura, e não apenas do século XVIII. Ele não se
limitou a ser - o que já não seria pouco... - uma das melhores mentes nacionais do
seu tempo: também foi uma das melhores da Europa. Pela sua erudição, pela sua
facilidade de comunicação, pela sua sensatez... enfim, pelo seu patriotismo,
que o levou a contribuir à distância (porque estava em Roma), incansavelmente,
durante anos, com o melhor do seu esforço intelectual, para o progresso e o
desenvolvimento do seu país, e não só ao nível da educação... Pelo seu
ecletismo, pela sua versatilidade, foi um autêntico enciclopedista... aliás, e
curiosamente, em 2013 também se comemoram os 300 anos do nascimento de Denis
Diderot (a 5 de Outubro).
P - O «Ano Verney» contempla várias iniciativas. Quais, em
concreto?
Não tantas como nós na organização gostaríamos... embora seja
possível que mais venham a ser anunciadas e realizadas para além das que estou
já a adiantar aqui e das que vamos apresentar, a 23 de Julho, dia de aniversário de Verney. Antes de mais,
destaque merecido para a Biblioteca Nacional, nossa principal parceira neste
projecto, que abriu em Maio uma exposição dedicada a Luís António Verney, que se
prolonga até 30 de Agosto, e que promoveu, no dia 11, uma conferência sobre
Verney pela Prof.ª Zulmira Santos, da Faculdade de Letras da Universidade do
Porto. Outras iniciativas estão em preparação nas áreas: da música, com
concertos de compositores da época de Verney, em especial portugueses e
italianos; das artes plásticas, com um projecto que colocará alunos de uma
faculdade de Lisboa a ilustrar um livro cuja acção se situa num século XVIII
«alternativo» e fantástico, e em que uma das personagens é, claro, Verney...
Estamos a desenvolver contactos para que livros de Verney sejam, se não
(re)editados, pelos menos relançados no mercado... muito em especial,
exemplares que a Sá da Costa (editora) ainda poderá ter do «Verdadeiro Método de
Estudar». E, evidentemente, o congresso de 16, 17 e 18 de Setembro, a
iniciativa central das comemorações...
P - No próximo dia 23 de Julho, pelas 18h, será apresentado o
«Ano Verney» e um Congresso sobre a sua obra. Em que consistirá este Congresso?
... denominado «Luís António Verney e a Cultura Luso-Brasileira do seu Tempo», cujo programa já pode ser visto no sítio do
Instituto de Filosofia Luso-Brasileira, entidade que, formalmente, o
organiza e durante o qual se tentará reequacionar o legado de Luís
António Verney, e dos seus contemporâneos, nos tempos de hoje, repensando, em
simultâneo, todo o século XVIII luso-brasileiro em várias áreas do conhecimento:
Artes, Filosofia, Ciências Naturais, Direito, Economia, Educação, Literatura,
Política, Religião... Mais de 30 especialistas e estudiosos foram convidados
para explanar e para debater as suas ideias e os seus trabalhos, e os de
outros, entre os quais António Braz Teixeira, António Cândido Franco, Artur
Anselmo, Duarte Ivo Cruz, Helena Murteira, Manuel Curado, Maria Alexandra Gago
da Câmara, Pedro Calafate, Renato Epifânio, Rui Lopo... Há o objectivo de,
posteriormente, editar em livro as actas do congresso.
P - A terminar, que ensinamentos poderíamos extrair do Verdadeiro
Método de Estudar? Seria possível uma reforma do ensino - e da
universidade, em particular - a partir dos enunciados da obra de
Verney?
O principal ensinamento que poderíamos talvez hoje extrair do
«Verdadeiro Método de Estudar» não teria tanto a ver, penso eu, com a sua forma
e o seu conteúdo - afinal, muita coisa mudou, e melhorou,
nestes últimos 250 anos... - mas, sim, mais com o seu
«espírito»... com o objectivo, com o propósito que o animou: instituir um
sistema de ensino que abrangesse, que acolhesse, as mais recentes teorias e
práticas do seu tempo. Luís António Verney queria «integrar» Portugal na Europa
do conhecimento daquela época, «puxar» o país, tanto quanto possível, para
vanguarda da cultura e da ciência que ele via florescer à sua volta. Queria
clareza, queria exigência, queria complementaridade, queria rigor, queria
eficiência. Queria uma educação caracterizada pela relevância, que não se
traduzisse em diletantismo e superficialidade. É por isso, e muito mais, que
Verney é ainda hoje, e sempre será, uma referência de excelência.
Entrevista de António Araújo
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