sexta-feira, 19 de julho de 2013

Verney, 300 anos.











 
 
 

Nos 300 Anos de Luís António Verney, uma conversa com Octávio dos Santos, um dos elementos da organização das comemorações.
 
 
 
 
 

P - Que sentido faz comemorar, nos nossos dias, o tricentenário do nascimento de Luís António Verney? Que importância teve - ou tem - para a cultura portuguesa?

Se faz sentido - e sem dúvida que faz - comemorar, assinalar, relembrar nos nossos dias «grandes aniversários» - 25, 50, 100, 150, 200 anos... - do nascimento e/ou do falecimento de grandes vultos da nossa História e da nossa Cultura, como, entre muitos outros, Fernando Pessoa, Eça de Queiroz, António Vieira, também faz sentido (tentar) prestar uma homenagem semelhante a Luís António Verney que é um dos autores mais importantes da nossa literatura, e não apenas do século XVIII. Ele não se limitou a ser - o que já não seria pouco... - uma das melhores mentes nacionais do seu tempo: também foi uma das melhores da Europa. Pela sua erudição, pela sua facilidade de comunicação, pela sua sensatez... enfim, pelo seu patriotismo, que o levou a contribuir à distância (porque estava em Roma), incansavelmente, durante anos, com o melhor do seu esforço intelectual, para o progresso e o desenvolvimento do seu país, e não só ao nível da educação... Pelo seu ecletismo, pela sua versatilidade, foi um autêntico enciclopedista... aliás, e curiosamente, em 2013 também se comemoram os 300 anos do nascimento de Denis Diderot (a 5 de Outubro).

 

P - O «Ano Verney» contempla várias iniciativas. Quais, em concreto?

Não tantas como nós na organização gostaríamos... embora seja possível que mais venham a ser anunciadas e realizadas para além das que estou já a adiantar aqui e das que vamos apresentar, a 23 de Julho, dia de aniversário de Verney. Antes de mais, destaque merecido para a Biblioteca Nacional, nossa principal parceira neste projecto, que abriu em Maio uma exposição dedicada a Luís António Verney, que se prolonga até 30 de Agosto, e que promoveu, no dia 11, uma conferência sobre Verney pela Prof.ª Zulmira Santos, da Faculdade de Letras da Universidade do Porto. Outras iniciativas estão em preparação nas áreas: da música, com concertos de compositores da época de Verney, em especial portugueses e italianos; das artes plásticas, com um projecto que colocará alunos de uma faculdade de Lisboa a ilustrar um livro cuja acção se situa num século XVIII «alternativo» e fantástico, e em que uma das personagens é, claro, Verney... Estamos a desenvolver contactos para que livros de Verney sejam, se não (re)editados, pelos menos relançados no mercado... muito em especial, exemplares que a Sá da Costa (editora) ainda poderá ter do «Verdadeiro Método de Estudar». E, evidentemente, o congresso de 16, 17 e 18 de Setembro, a iniciativa central das comemorações...   

 

P - No próximo dia 23 de Julho, pelas 18h, será apresentado o «Ano Verney» e um Congresso sobre a sua obra. Em que consistirá este Congresso?

... denominado «Luís António Verney e a Cultura Luso-Brasileira do seu Tempo», cujo programa já pode ser visto no sítio do Instituto de Filosofia Luso-Brasileira, entidade que, formalmente, o organiza e durante o qual se tentará reequacionar o legado de Luís António Verney, e dos seus contemporâneos, nos tempos de hoje, repensando, em simultâneo, todo o século XVIII luso-brasileiro em várias áreas do conhecimento: Artes, Filosofia, Ciências Naturais, Direito, Economia, Educação, Literatura, Política, Religião... Mais de 30 especialistas e estudiosos foram convidados para explanar e para debater as suas ideias e os seus trabalhos, e os de outros, entre os quais António Braz Teixeira, António Cândido Franco, Artur Anselmo, Duarte Ivo Cruz, Helena Murteira, Manuel Curado, Maria Alexandra Gago da Câmara, Pedro Calafate, Renato Epifânio, Rui Lopo... Há o objectivo de, posteriormente, editar em livro as actas do congresso. 

 

P - A terminar, que ensinamentos poderíamos extrair do Verdadeiro Método de Estudar? Seria possível uma reforma do ensino - e da universidade, em particular - a partir dos enunciados da obra de Verney?

O principal ensinamento que poderíamos talvez hoje extrair do «Verdadeiro Método de Estudar» não teria tanto a ver, penso eu, com a sua forma e o seu conteúdo - afinal, muita coisa mudou, e melhorou, nestes últimos 250 anos... - mas, sim, mais com o seu «espírito»... com o objectivo, com o propósito que o animou: instituir um sistema de ensino que abrangesse, que acolhesse, as mais recentes teorias e práticas do seu tempo. Luís António Verney queria «integrar» Portugal na Europa do conhecimento daquela época, «puxar» o país, tanto quanto possível, para vanguarda da cultura e da ciência que ele via florescer à sua volta. Queria clareza, queria exigência, queria complementaridade, queria rigor, queria eficiência. Queria uma educação caracterizada pela relevância, que não se traduzisse em diletantismo e superficialidade. É por isso, e muito mais, que Verney é ainda hoje, e sempre será, uma referência de excelência. 

 

 

Entrevista de António Araújo

 

 

 

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