Da
grande Clarice escreveu Benjamin Moser a biografia – de que até existe tradução
em Portugal, vejam só. Será difícil fazer melhor, é um livro único. Como única
é a colectânea de Crónicas,
igualmente publicadas entre nós. As crónicas femininas escritas por Clarice-jornalista também serão editadas em Portugal, ó bendita Relógio d'Água. No outro dia, porém, apareceu-me à frente outra obra; Clarice Lispector Jornalista, um livro de Aparecida Maria Nunes. Não
é novidade, saiu em 2006. Vi que, entretanto, a professora Aparecida deu à estampa uma colectânea mais recente do
labor de Lispector nas redacções. Só li Clarice
Lispector Jornalista, que tem matérias saídas nos jornais nas décadas de 40
e 50. Mais do que os textos de Clarice – que aqui aparecem apenas parcialmente
transcritos – o que encanta e fascina é conhecermos a fundo, mais a fundo do
que na biografia de Moser, esta faceta da escritora. Tereza Quadros foi
um dos seus noms de plume. Dava conselhos sobre como exterminar baratas, receitas
fáceis para bem-viver, perfumes e camarões. Muito mais lispectoriano do que
poderá parecer à primeira vista. O livro, claro, interessa sobretudo, ou
quase exclusivamente, aos que têm Clarice perto do coração selvagem. Francisco
de Assis Barbosa foi seu colega na redacção de A Noite (onde Clarice era a única mulher…). Conheceram-se por volta de
1940, e Assis Barbosa evoca assim a génese de Perto
do coração selvagem:
«(…)
à proporção que ia devorando os capítulos que estavam sendo dactilografados
pela autora fui me compenetrando que estava diante de uma extraordinária
revelação literária, onde havia muito de Clarice, onde a influência de Joyce
era irrelevante, se é que efectivamente houvesse influência do grande escritor.
O que havia, de facto, era o ímpeto Clarice, o furacão Clarice».
Falou, Barbosa. Isso mesmo.
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