Su majestad, o España.

 

 

 

O Edificio España sempre foi para mim uma das maravilhas de Madrid. Passei tardes inteiras a mirá-lo cá de baixo, sentado num banco de jardim, contemplando, esmagado, o belo-horrível daquela massa enorme e neobarroca dos irmãos Otamendi. Quando lhe dá a luz do entardecer, o España transfigura-se sobre o ruído das ruas, agiganta-se mais ainda. Muitas vezes tentei saber quem ali viveria, aguardando que entrasse ou saísse um morador para ver quem era. Quem mora no Edifício España? Uma ou outra vez vi gente por lá, mas nunca tive a certeza certa que fossem residentes – e entretive-me a pensar como seriam os interiores e as entranhas do España, como seria viver ali. Agora, vai ser vendido por 265 milhões de euros a um magnata chinês, de nome Wang. Nada contra. É muita massa em jogo, dos dois lados da mesa. Mas nunca, por nunca, estraguem o majestoso España. Seria pior do que uma abdicação régia.