sexta-feira, 27 de junho de 2014

Volunturismo.

 
 




Num célebre artigo de jornal, saído há muitos anos, Alfred Sauvy criou a expressão Tiers Monde, o sucedâneo contemporâneo do Tiers État. E, ao longo de décadas, houve missionários religiosos, cooperantes ideológicos, viajantes do absurdo. Agora, dizem aqui, existem volunturistas.  Gente, geralmente jovem, que vai para África ou outros lugares remotos em busca de um desejo de evasão ou auto-realização pessoal, mais do que por um genuíno propósito de ajuda. Sinais dos tempos: o Instagram ou o Facebook contribuem para a festa e muitos cedem à tentação de colocar imagens suas, muito sorridentes e de colete caqui, com um rancho de neguinhos em redor. O debate talvez não faça sentido. Porventura tudo não passa de um desabafo ou acto de contrição de um ou outro voluntário. Mas também é certo que pode existir muito de «egoísta» nestas expedições exótico-humanitárias. As fronteiras não são fáceis de traçar e é perigosíssimo fazer generalizações. Jamais saberemos onde acaba o voluntarismo e começa o volunturismo. As intenções e as motivações, de resto, são algo secundárias. Não interessa se vão para lá por narcisismo, crença religiosa ou outras razões, desde que isso não prejudique o trabalho  que se propõem fazer. O que importa são os resultados. Se, no terreno, o volunturismo fizer algo de bom por quem precisa, então viva o volunturismo.
 
 
 
 

3 comentários:

  1. Não conhecia o termo. Está bem apanhado. Como bem vista está a questão neste sucinto apontamento. Conheço muitos jovens cheios de idealismo que se oferecem para trabalhar em países mais pobres e onde fazem trabalho notável. Podem não deixar muito lá, mas a verdade é que trazem imenso. Fazem uma aprendizagem que lhes fica para a vida.
    onésimo

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    1. Obrigado, Onésimo, pelo seu comentário!
      Abraço amigo,
      António

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  2. No mundo das emoções, o que nos parece simples, parece sempre ter razões complexas (ou vice-versa, não sei). Muitas vezes me pergunto se ajudo os outros por puro altruísmo ou por necessidade egoísta de me sentir bem (ajudar faz-me sentir bem). Com os anos, tenho vindo a deixar de procurar as razões e limito-me a ajudar, sem fazer disso grande alarido. Mas, com franqueza, penso nisto com frequência.

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