sexta-feira, 5 de junho de 2015

De Sartre a Albert Cohen: oito autores franceses predilectos.






Sartre, fotografado por Cartier-Bresson

 

Levei algum tempo a frequentar autores franceses, talvez por ter tido o inglês como minha segunda língua, desde os meus estudos primários, feitos em Joanesburgo. Foi só quando era estudante na Universidade, a partir de 1956, que me iniciei verdadeiramente na leitura dos autores da Gália, começando, em obediência ao inescapável Zeitgeist, por ler Jean-Paul Sartre, primeiro os contos do volume O Muro e, depois, depois o romance A Náusea, que toda a gente lia na época, ainda que fossem obras sem grande interesse. Verdadeiramente, só apreciei deveras Les Mots (1964), obra singular no género da autobiografia. Daqui passaria mais tarde e, por razões muito diferentes, e já depois de regressar dos sete anos de vida em França, ao estudo de Simone de Beauvoir (1908-1986), sobretudo empenhado como estava em mostrar até que ponto esta visitante do nosso país se interessou pelo regime político da ditadura salazarista: tendo vindo a Portugal em 1945 para se encontrar com a irmã “Poupette” (Héléne de Beauvoir) e o cunhado, funcionário da Lionel de Roulet que viviam em Faro, Simone daria alguma atenção ao regime de Salazar, tanto num volume das suas memórias, La Force de l’Age (1960),  como no seu romance Os Mandarins. [1]   
 
 
 
Camus, fotografado por Cartier-Bresson
 


De qualquer modo, passada a breve fase de entusiasmo por Sartre, depressa me deixei seduzir por autores franceses completamente diferentes, cujas leituras a partir da adolescência, durante os anos de vida na universidade e, depois, no septenato vivido na Gália, vou resumir duma maneira sintética. Antes de mais, o primeiro livro de Albert Camus[2] que li foi o volume de contos O Exílio e o Reino (1957), que me despertou uma admiração muito forte e que nunca mais se desvaneceria, à medida que fui lendo todas as suas grandes obras romanescas desde O Estrangeiro (1942) à Peste (1947) – uma das parábolas mais fortes do séc. XX –, com especial encanto pelo impressionante monólogo/confissão A Queda (1956), além das suas obras mais metafísicas ou ensaísticas –  O Mito de Sísifo (1942), O Homem revoltado (1951), Bodas (1938) –, sem esquecer as crónicas políticas na imprensa, a admirável série de Actuelles, publicadas a partir de 1944, embora pouco me interessando pelo seu teatro. A minha admiração por Camus não se limitava ao que se podia chamar uma devoção puramente literária, já que na sua prosa de ensaio ou de intervenção na vida da polis ajudou a formar a minha visão do mundo – como no caso do seu enérgico combate contra a pena de morte, numa obra feita de com Arthur Koestler – cujas extensas memórias (Arrow in the Blue e  The Invisible Writing, 1952-54) contêm interessantes anotações sobre Portugal, onde este antigo agente do Komintern, depois desiludido com o comunismo, esteve duas vezes, a última em vésperas de se expatriar de vez na Grã-Bretanha.[3]  Fosse como fosse, Camus continuaria a ser minha constante releitura até ao presente.
                                                                                                                                 
 
Malraux, fotografado por Cartier-Bresson
                                                



Além de Camus, alguns outros autores franceses fazem parte do meu Panteão literário. Além do sempre relido Flaubert,[4]  tenho de referir André Malraux os seus romances Les Conquérants (1928), La Condition humaine (1933), L’Espoir (1937), um dos mais fortes relatos da guerra civil de Espanha, na qual o autor partcipara –,  Noyers de l’Altenburg (1943), e até algumas das suas inspiradas  divagações sobre arte, como Voix du Silence (1951) ou Métamorphose des Dieux (1966), admiração que nem a sua conversão a ministro da Cultura do general de Gaulle, de 1959 a 1969, lograria turvar. Lembro também Romain Gary (Vilna, Lituânia, 1914 - Paris, 1980), autor popular, embora algo desprezado pela intelligentzia gaulesa, cujos romances me habituei a ler desde A Educação Europeia (1945), empolgante relato da epopeia antinazi durante a segunda guerra mundial, bem como o relato africano d’As Raízes do Céu (1956), texto ecológico-político que lhe valeu o prémio Goncourt ou ainda, quase vinte anos depois, a sua obra publicada sob o pseudónimo de Émile Ajar (que, na verdade, era um familiar seu chamado  Paul Pavlowitch), de modo a poder voltar a vencer o Goncourt com La Vie devant soi (1975). Escreveria ainda outras obras que, em certa medida, superavam as anteriores em delirante e corrosiva ironia e cruel sinceridade, sem dúvida na mais pura tradição judia de travesso chutzpah, como Gros-Câlîn (1974),  Au-delà de cette Limite votre Ticket n´est plus valable (1975), ou L´Angoisse du Roi Salomon (1979), acabando por se suicidar, em  2-X-1980, como o fizera, no ano anterior, a  sua antiga mulher, a actriz americana Jean Seberg.




Céline
 
 
 
Não posso de lembrar o fascínio que exerceu sobre o meu espírito uma das obras maiores e mais dissonantes do século XX francês, A Viagem ao Fim da Noite (1932) de Louis-Ferdinand Céline, que muito admiro apesar dos seus repulsivos panfletos anti-semitas publicados mais tarde – Bagatelles por un Massacre (1937),  L’École de Cadavres (1938) e Beaux Draps (1940), que figuram na minha biblioteca mas que nunca consegui ler  de fio a pavio, assim como me desagrada o seu comportamento durante a Ocupação, período em que se mostrou abertamente simpatizante do hitlerismo. Fugindo do seu país após a derrocada de Pétain em 1944, viveria alguns meses no meio dum punhado de dirigentes vichysistas e milicianos num palácio na Alemanha nazi, em Sigmaringen, sobre o Danúbio, o que lhe deu material para escrever  um retrato vitriólico dessa experiência alucinante intitulado Dum Castelo para Outro (1957), retrato em tons de Bosch sobre esse punhado de collabos reunidos no cenário duma barca de Caronte, a bordo da qual o médico Dr. Destouches (Céline) ridiculariza todos os robertos desse grotesco Gérolstein de traidores e fantoches, empilhados em plena Floresta Negra, aguardando a derrocada do Reich milenar que durara apenas doze anos, testemunho redigido com os  seus dons mais exorbitantes de linguista e de narrador visionário. Depois partiria por sua conta para o exílio na Dinamarca, donde só tornaria ao seu país em 1951, após amnistiado da condenação a um ano de prisão que um tribunal lhe dera no ano anterior.

 De qualquer modo, a sua revolução estilística e de teor narrativo na Viagem ao Fim da Noite, na linha da literatura maldita, permitia-lhe sumarizar com um realismo novo, que nada devia aos cânones estéticos do séc. XIX, um trajecto de errância existencial dum espírito anarquista, o médico Batrdamu, narrativa começada no meio da carnificina da Grande Guerra, prosseguida numa África alucinante e  prosseguida numa América de pesadelo, cujas fábricas em Detroit mostravam que, em vez de ser uma terra prometida, não passava dum país de escravos e exploração desenfreada do homem pelo homem, acabando por regressar a França onde, como o seu autor, se estabelece como médico nos arredores sórdidos de Paris e, mais tarde, num asilo psiquiátrico. Em suma, a guerra, a colonização em África e a dureza implacável dos capitalismos americano eram os três vértices desta epopeia do horror de viver num mundo de desumanidade e abominações sem limites. Um comum fundo gnóstico, que em parte compartilho com este escritor detestável mas genial, talvez seja, na verdade, o que mais me fascinou na leitura deste livro angustiante, em tudo excessivo e profundamente desesperado.
 
 
Albert Cohen
 


Nesta lista de autores franceses, gostaria de acrescentar ainda dois nomes finais, começando com o grande romancista, Albert Cohen (Corfu, 1894 – Genebra, 1981), autor do ciclo prodigioso dos Solal, uma família judia que vem de Cefalónia para Marselha e por fim para a Suíça – o que é, de algum modo, o trajecto autobiográfico do próprio escritor, que, naturalizando-se suíço, seria funcionário da SDN, membro dos Franceses Livres degaulistas exilados na Grã-Bretanha e, por fim, funcionário superior do BIT (Bureau International du Travail) na Suíça, tendo recusado o posto que Israel lhe ofereceu como embaixador na Confederação Helvética. O seu romance Belle du Seigneur (1968), obra duma excepcional amplidão, além de relato extremamente satírico da a burguesia calvinista de Genebra e da instituição internacional que ali funcionava (de que era exemplo típico o burocrata belga Adrien Deume, casado com Ariane, a amante de Solal), mesclada a um lirismo intenso e dramático, de desfecho trágico – um suicídio a dois, consumado por Ariane e Solal –, conta a saga trágico-cómica da referida família greco-judaica, os Solal – o tio Saltiel, o pequeno Salomon, o sedutor Michaël, o avaro Mattathias e o mitómano Mangeclous, saga iniciada em  1930 com Solal, prosseguindo com Mangleclous (1938), O Livro da minha Mãe (1954) –, ao mesmo tempo que nos dá um retrato da Alemanha nas mãos desse “aboyeur à moustache”(cap. LIV).

Com este novo Cântico dos Cânticos, relato duma grande história de amor-paixão, desde meados dos ano 30, no meio duma Europa progressivamente gangrenada pelo anti-semitismo e em marcha imparável para o abismo, dá-nos Cohen neste extraordinário romance de quase 900 páginas, na linha dos grandes dramas amorosos como o de Romeu e Julieta, uma das obras-primas do século XX, ao qual u autor acrescentaria, em 1969, Os Valorosos, o derradeiro painel da gesta tragicómica dum clã sefardita, os Solal, expulsos de Espanha em 1492, nacionalizados franceses, graças ao “encantador decreto da Assembleia nacional de 27 de Setembro de 1791” (cap.XIIII) – conhecidos como “les Valeureux de France” – e chegados, por fim, à ilha de Cefalónia em em 1799. Autor famoso desde 1930, saudado com entusiasmo com o seu romance de 1968, La Belle du Seigneur, Cohen parece, contudo, estar hoje relativamente esquecido, apesar de ser, sem dúvida, um dos mestres mais singulares do século passado, ao mesmo tempo que, na mesma centúria em que ocorria o Shoah, o escritor celebrava o povo da Bíblia e a lei de Moisés como a antítese de bestialidade nazi, essa ideologia do anti-Cristo, o “méchant chef, l’aboyeur avec la moustache”, como diz Raquel, uma judia anã que vive escondida numa cave em Berlim (cap. LIV): enquanto o judaísmo buscava “transformar o homem natural em filho de Deus”, ou seja, transcendendo a força bruta dos homens em espiritualidade, enquanto a cruz gamada exaltava a “lei da natureza” como apoteose da raça loira do pretenso “Herrenvolk”, não sendo por isso de espantar que “os Alemães, povo da natureza tenham sempre detestado Israel, povo da anti-natureza” (cap. XCIV), pelo que Cohen enaltece da “duas filhas de Jerusalém,  a judia e a cristã”, porquanto ambas  buscam a mesma finalidade, “a  humanização do homem”, razão  pela qual “Hitler odeia as duas igualmente, pois todas as duas são rainhas da humanidade, inimigas eternas da lei da natureza” (cap.XCIV). Ao invés, o pensamento do povo da Aliança pretendia antes criar “ce monstre non naturel et non animal qu’est l’homme.” (La Belle du Seigneur). Num artigo publicado no Le Monde de 22-X-1981, Bertrand Poirot-Delpech escrevia com razão que Albert Cohen “ reverencia o Deus de Abraão, assim como a lei de anti-natureza e a utopia humanista que estão com ela, por uma única razão – e não há outras –, porque são a obra do seu povo. Uma voz espantosa de amor e de humor calou-se.” (“La mort d’Albert Cohen/ Une voix étonnante d’amour et d’humour”). Há uma boa tradução portuguesa deste romance, feita por António Pescada, Bela do Senhor, Lisboa, 1994. Assinale-se, por fim, uma recente e assaz medíocre adaptação ao cinema de La Belle du Seigneur (2014), filme de Glenio Bonder, com os actores Jonathan Rhys Meyers/(Solal) e Natalia Vodianova (Ariane).
 
 

Roger Vailland




Devo ainda lembrar, entre os meus escritores franceses, lidos com maior entusiasmo, o nome de Roger Vailland (1907-1965), autor de um notável romance relatando as suas experiência de resistente ao nazismo durante a Ocupação da França, Drôle de Jeu (jogo de palavras com a famosa “drôle de guerre” de 1939-40), editado em 1945 – numa altura em que várias outras importantes obras de ficção francesas davam a sua versão do período negro de 1940-44 (v.g., Vercors, Jean-Luis Curtis, Jean-Louis Bory, Marcel Aymé, Jean Dutourd, etc.). Neste seu romance, Vailland punha o seu alter ego “Marat” (nome de guerra da personagem) a reflectir sobre a similitude entre a dramática situação do exército grego comandado por Xenofonte, atravessando mediante mil perigos a hostil Pérsia para regressar a Hélade, com o diminuto e ameaçado grupo dos resistentes franceses que, na clandestinidade ou nos maquis, enfrentava tanto as milícias de collabos ao serviço de Pétain como os ocupantes germânicos.[5] Além, de uma série de outros romances posteriores, a opção marxista de Vailland, filiado no PCF, acabaria, todavia, por dar lugar a uma ficção mais pessoal, descomprometida e independente, como o referido La  Loi (1957), adaptado ao cinema por Jules Dassin, em 1958, num filme com grandes actores (Marcello Mastroianni, Yves Montand, Paolo Stoppa, Gina Lollobrigida, Melina Mercouri, Pierre Brasseur, etc.)[6] ou ainda, meditando sobre a importância da relação erótica, na linha do seu admirado Choderlos de Laclos,  La Fête (1960) e La Truite (1964).

Termino esta breve lista de escritores gauleses, com um nome que representa para mim algumas das qualidades mais admiráveis qualidades: Raymond Queneau (Havre, 1063 – Paris, 1976), antigo literato surrealista que dissidente do grupo de André Breton para erguer uma extensa obra romanesca, poética e ensaística, criadora dum estilo muito peculiar e com aquilo a que se chamaria depois o neofrancês, ou seja, a admissão da oralidade e o constante recurso a transcrições da fala quotidiana na prosa,  aproximando a escrita da língua realmente falada, sem temer a langue verte mais desinibida e provocadora, feita a partir do génio da linguagem popular, desde que em 1932 publicou um livro que era já uma pedrada no charco, ainda que só em 1959 se tornaria famoso como um autor de referência ao publicar  edição de Zazie dans le Métro, adaptado no ano seguinte ao cinema por Louis Mlle. Entretanto, Queneau depois de escrever e editar, desde 1932, vários outros romances e livros de poemas, além de colaborar na editora Gallimard como director da enciclopédia da Pléiade, ao mesmo tempo que, assistindo nas Escola Prática de altos Estudos da Sorbonne aos cursos dados pelo russo Alexandre Kojève, editava em livro essas aulas que tinham atraído alguns dos espíritos mais notáveis da França do tempo. Entretanto, licenciava-se em Filosofia, era eleito para a Academia Goncourt e admitido no Colégio de Patafísica, escrevendo entre 1952 e 1960 guiões para filmes de René Clément, Jean Herman  (adaptação do seu próprio romance O Domingo da Vida) e Buñuel, até que em 1959, conheceu a referida e súbita celebridade com a publicação de Zazie no Metro,  irreverente estória da menina travessa e escarninha que vai passar três a Paris fascinada pela ideia de andar no metropolitano – o que uma greve impede que realize, embora, no regresso à estação ferroviária, onde a espera a sua mãe para regressarem à província natal, a atrevida e provocadora Zazie ande de metro, mas sem dar por isso, porque o  faz adormecida nos braços do tio Gabriel, quando este a leva, de metro para a estação de Austerlitz.

Li este livro em 1960, já em edição da Livre de Poche, com uma engraçada capa de Siné, transformando um bilhete de metro em vestido de Zazie, acrescentando-lhe a cabeça, os braços e as pernas, esta incomparável paródia burlesca chamada Zazie dans le Métro, a partir da qual nunca mais perdi de vista a obra de Queneau – sem esquecer os poemas que Juliette Gréco e os Frères Jacques transformavam em canções populares –, devoção que me levou a traduzir-lhe  vinte poemas, publicados na Revista da Faculdade de Letras.[7] É difícil encontrar noutras literaturas europeias – e ainda menos na nossa −, algo de semelhante a este livro-poema de fundo metafísico – pense-se no monólogo hamletiano/calderoniano de Gabriel, olhando Paris do alto da Torre Eiffel [8] −, impossível , na medida em que ele tem a montante autores franceses como François Villon, Rabelais  ou Alfred Jarry, o que lhe  facilitava a os passes de mágica verbal do neofrancês queneusiano e, sobretudo, o deixa à vontade na fala faceciosa que não tem equivalente noutras literaturas, incluindo a inglesa, pois nesta o humor ou vive do understatement ou do puro non-sense de Edward Lear ou Lewis Caroll.

 

 

NB: Este texto é composto de passagens tiradas do livro

Memórias dum Estrangeirado (inédito).

 

 

João Medina

 




[1] Sobre esta visita de Beauvoir a Portugal, em 1945, e os textos sobre Salazar que ela publicou depois nas obras referidas, veja-se o nosso estudo Salazar em França, Lisboa, Ática, 1977, pp.95-97 e 144-146, além de trechos das obras de S. de B. nele insertos, traduzidos em português: pp.121-125 (d’A Força das Coisas e d’Os Mandarins, pp.125-144). Nesta nossa obra há um retrato de S. B. e a reprodução do cartaz da exposição de pinturas de Hélène de Beauvoir, no SNI em 1943. Sobre a vinda de S. de B. a Portugal, em 1945 (a irmã vivia no nosso país desde 1940), veja-se Hélène de Beauvoir, Souvenirs recueillis par Marcelle Routier, Paris, Librairie Séguier, 1987, pp.147 e ss (maxime pp.163-167). O director do Instituto Francês em Portugal era, nessa altura, Pierre Hourcade, que tive o prazer de conhecer pessoalmente quando este, já reformado, foi viver para Aix-en-Provence no período em que ali leccioneis. Jacques Ploncard “d’Assac”(1910-2005), peniculário francês de extrema-direita, vindo da Action Française, refugiado em Portugal depois do fim da Ocupação nazi em França, entretanto condenado por delitos de colaboração anti-semita ao serviço dos alemães, foi durante muitos anos colaborador da Emissora Nacional portuguesa e autor de ensaios e antologias sobre o salazarismo: veja-se La Vouldie (pseud, de J.P.), Mme Simone de Beauvoir et ses “Mandarins”, Paris, La Librairie Française (do editor de extrema-direita Henry Coston), 1955. sobre J.Ploncard, veja-se  Pierre-André Taguieff (org.) , L´Antisémitisme de Plume. 1940-1944, Paris, Berg International Éditeurs, 1999. Ploncard foi condenando em 15-III-1952 “por inteligência com o inimigo”, tendo sido, de 1940 a 1943, membro do partido anti-semita Parti Populaire Français (PPF), colaborando com os ocupantes alemães nos serviços de pesquisa do ex-Grande Oriente de França (Maçonaria francesa). Exilando-se em 1944 em Portugal, J.P foi colaborador do Diário da Manhã e da E. Nacional, com a crónica “A voz do Ocidente”, só regressando a França depois do 25-V-1974.


[2] Veja-se no meu Saudades da Provença (Lisboa, Edições Colibri, 2013) o que escrevo sobre Camus, a sua casa em Lourmarin e a sua obra (“Camus revisitado”, pp.20-24), bem como a extensa nota sobre S. de Beauvoir e Portugal (pp.22-22).


[3] A. Koestler (Budapeste, 1905 - Londres, 1983) dedicaria a “Neutralia” (i.e., Portugal em 1940) um romance autobiográfico, Arrival and Departure (1943), trad. em francês como Croisade sans Croix (1956). Sobre este tópico, veja-se o que dizemos no nosso estudo Dois Exilados alemães. Klaus Mann e Thomas Mann no Exílio antinazi, Lisboa, Livros Horizonte, 2003, p.133.


[4] Sobre Flaubert veja-se o que dizemos no nosso livro Os meus Vícios. Pessoas, livros, ideias & lugares,  V.ª N.ª de Famalicão, 2011, “O papagaio de Flaubert ou de como nenhuma palavra cai no vazio”, pp.111-129.


[5] Dedicámos um curto ensaio a esta convergência entre Xenofonte e Vailland: “Anabasis (A Retirada dos Dez Mil) de Xenofonte, o meu primeiro livro de guerra antiga – de Aquilino Ribeiro, seu tradutor, ao romance Drôle de Jeu, de Roger Vailland”, in A Guerra na Antiguidade III, Lisboa, Caleidoscópio, 2010, pp.15-22.


[6] Veja-se, a fala de Don Cesare, em La Loi, Paris, Livre de Poche/Gallimard, 1961. Esta personagem viajara muito pela Europa, entre1904 e 1914, passando por Portugal, concluindo que “não havia maior infelicidade do que nascer português. Em Lisboa, pela primeira vez na sua vida ele tinha encontrado um povo que se desinteressara.”( p.106; itálico do original). Como jovem jornalista do Paris-Soir, R.V. publicara, em Novembro de 1932, no ano m que Salazar fora nomeado presidente do conselho, alguns artigos onde mostrava a ditatorialização do nosso país, o funcionamento duma censura severa e o poder da polícia política presente em todo o lado: vide Yves Carrière, Roger Vailland ou un libertin au Regard froid, Paris, Plon, pp.188-91; este biógrafo resume cinco artigos de R.V. sobre a sua situação política de Portugal.


[7] Ver “Vinte poemas de Raymond Queneau”, Revista da Faculdade de Letras, nº 21-22, 5ª série, 1996-1997, pp.317-326, com um dossiê com fotos e ilustrações, entre elas a capa colorida desenhada por Jacques Carelman para a BD Zazie dans le Métro, Paris, Gallimard, 1966. Recorde-se que Louis Malle fez uma versão cinematográfica desta obra, estreada em 1960, com Phillipe Noiret (tio Gabriel), Catherine Demongeaot (Zazie), Jacques Dufilho (Gridoux), Antoine Roblot (taxista Charles), Vittorio Caprioli (Irouscaillon), Yvonne Clech (viúva Nouaque), etc. Da extensa bibliografia passiva sobre R.Q. e este romance, lembramos Zazie dans le Metro, edição anotada e comentada por Michel Bicot, Paris. Gallimard, col. Foliothèque, 1994. E ainda o Album Raymond Queneau, iconografia recolhida e comentada por Isabelle Queneau, Paris, Gallimard, 2002, ilustr.. Há uma tradução portuguesa deste romance, feita por Alexandre Rodrigues, Zazie no Metro, Lisboa, Portugália Editora, 1965, que, infelizmente, não consegue dar em português o equivalente francês da linguagem irreverente e provocadora de Zazie, nem ao “neofrancês” praticado por R.Q. E isso desde a primeira frase do livro (em francês: “Doukipudonktan?”, transcrição de “d’où qui pue donc tant?”), que é vertido pedestramente como “Donde parte este cheirete?”(p.13) e o original ”Sacrebleu, merde alors!”  torna-se “Ora bolas, então vão todos à m…, sim?”(p.14); o recorrente “mon cul” (a começar com o “Napoléon, mon cul”, ed. franc., p.16) de Zazie transforma-se em “bolas” ou em “uma figa”…. No espantoso monólogo mesclando Shakespeare e Calderón de la Barca, que Gabriel pronuncia no alto da torre Eiffel, seguido por um grupo de turistas que o tomam por um guia, estes perguntam: “Kouavoir” (ed. francesa, p.91), que o tradutor verte para  “Cápraver?”(p.135).


[8] Veja-se R. Queneau, Zazie dans le Métro, Paris, Gallimard, col. Folio, 1994, pp.90-91
 
 
 
 

2 comentários:

  1. Caramba! Como é que alguém lê tanta coisa numa vida só?! Se me falta tempo para ler este post todo de uma vez

    Ou não existiria vida para além do tempo de leitura...fico até meia agoniada de ignorância. Mas pronto, tá bem.

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