O
ano passado, numa feira de rua em Lisboa, a Filipa Vicente comprou esta fotografia. De Angola,
1961. Mais do que isso, pouco se sabe. No verso da imagem, em formato de
postal, alguém escreveu a tinta azul que aquela era a mulher de um soba da
região do Dembe, «lá muito para o norte e muito no interior do mato». O texto é
assinado por «Vitor». Uma mulher vestida de Churchill, lá para muito para o
norte de Angola, por densos matos adentro.
É difícil olhar para esta mulher sem pensar nas palavras de Barthes: «o que constitui a natureza da Fotografia é a pose. Pouco importa a duração física dessa pose; mesmo que dure um milionésimo de segundo (...) há sempre pose, porque a pose não é aqui uma atitude do alvo, nem mesmo uma técnica do Operator, mas o termo de uma "intenção" de leitura: ao contemplar uma foto, incluo fatalmente no meu olhar o pensamento desse instante, por muito breve que tenha sido, em que uma coisa real ficou imóvel diante do olho» (Roland Barthes, A Câmara Clara. Notas sobre a fotografia, trad. port., Lisboa, Edições 70, s.d., p. 88).
O texto da Filipa Lowndes Vicente, na página da
Fundação Mapfre, aqui.
Obrigado, Filipa.
António Araújo
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