Kurt Reuber
Madonna de Estalinegrado
1942
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Impressionou-me quando a vi pela
primeira vez em Berlim, exposta na Kaiser-Wilhelm-Gedächtniskirche. Mas,
estupidamente, não lhe dei a atenção devida, nem a apreciei e estudei como merece. Para
mais, é grande, tendo 90 cm por 1,20m. Madonna
de Estalinegrado, porque hoje é Dia da Mãe.
Kurt Reuber (1906-1943), auto-retrato
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Desenhada a carvão por Kurt Reuber, uma
Mãe abraça o Filho, amparando-o sob o calor do seu manto. A figura é ladeada pelos
dizeres: «Luz, Vida, Amor», do Evangelho de São João, e «Natal no Cerco 1942».
Foi feita em Dezembro de 1942, durante a batalha de Estalinegrado, e o seu
autor, Kurt Reuber, é uma personalidade fascinante e trágica. Médico, teólogo,
pastor protestante, artista, era amigo de Albert Schweitzer, sendo convocado em
1939 para servir o Reich, ainda que as autoridades o olhassem como um subversivo, dadas as posições
antinazis que frequentemente assumia nas suas prédicas. Em finais de 1942, Reuber
integrava a 16ª Divisão Panzer, pertencente ao 6º Exército, a qual seria
cercada pelas tropas soviéticas. Entre o frio e a fome, na iminência de uma
morte certa, o médico do 6º Exército decidiu desenhar uma mãe e um filho, com
as cabeças encostadas uma à outra, abrigados por um manto. «Procurei simbolizar
“segurança” e “amor materno”. Lembrei-me das palavras de São João: luz, vida,
amor. O que poderia acrescentar mais?». Nas trevas do seu abrigo, o Dr. Reuber
desenhou a Virgem e o Menino, utilizando um lápis minguante e o verso de um
mapa que fora capturado aos russos. Terminada a obra, abriu a porta do seu
abrigo, seguindo um antigo costume de Natal. Os homens foram entrando, ficando
em silêncio na contemplação de uma Mãe desenhada nas costas de uma carta
militar. Foi lá, diante da Madonna, que celebraram o Natal. Na véspera de Natal,
morreram 26 soldados, a juntar às dezenas de milhar que tinham perecido
entretanto, muitos dos quais abandonados pelo caminho, cadáveres sepultados
pela neve. Kurt Reuber passou o Dia de Natal a cuidar dos feridos, dos
moribundos. À noite, o comandante abriu a última garrafa de champanhe que
tinha, mas a celebração foi subitamente interrompida pelas bombas que começaram
a cair em seu redor. Um homem, prestes a morrer, cantou nos últimos momentos de
vida O du Frohliche, uma canção do
Natal da sua infância, no tempo da segurança e do amor materno. No princípio de
Janeiro, o cerco terminou com a detenção dos soldados alemães que restavam.
Entre eles, Kurt Reuber. Antes disso, por milagre, o último avião que voou de
Estalinegrado para a Alemanha trouxe consigo o desenho de Reuber, que o dera ao comandante da unidade.
Reuber seria preso pelos russos e levado para o campo de Yelabuga, cerca de mil
quilómetros a nordeste de Estalinegrado.
Kurt Reuber
Madonna dos Prisioneiros
1943
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No campo de Yelabuga, e também por
alturas do Natal, Reuber desenharia em 1943 a Madonna dos Prisioneiros, que, juntamente com algumas cartas, foi
entregue à sua família. Entre elas, a tocante Carta a uma Mulher e Mãe Alemã – Advento de 1943 (um trecho, aqui).
Poucas semanas depois, a 20 de Janeiro de 1944, Kurt Reuber morreria, vítima de
tifo. Dos cerca de 95 mil prisioneiros de guerra alemães capturados pelos
soviéticos, apenas 6.000 sobreviveram ao cativeiro.
Kurt Reuber (de óculos), a tratar um ferido em campanha
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Kurt Reuber, a desenhar, na frente de combate
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O original da Madonna de Estalinegrado seria colocado, muito mais tarde, na Kaiser-Wilhelm-Gedächtniskirche,
na sequência de um pedido do Presidente da Alemanha, Karl Karsten, à família de
Kurt Reuben. Foi lá que a vi, apressada e turisticamente. Em sinal de
reconciliação entre a Alemanha, o Reino Unido e a Rússia, existem cópias nas
catedrais de Coventry, Kazan e Volgogrado (antiga Estalinegrado), bem como em
diversas igrejas alemãs (ver a lista aqui).
Fizeram-se poemas, vídeos e múltiplas recriações pictóricas de gosto
duvidoso, e também estudos académicos, densos e profundos
(ver também esta interessante nota).
Mas,
apesar das réplicas e recriações, insiste-se: o desenho original, saído das mãos de
Kurt Reuber, encontra-se em Berlim. Foi lá que o vimos, eu e a minha Mãe.
António Araújo
E O PRÉMIO PARA O JOSE LUIS PEIXOTO'''???Parece de propósito para aborrecer o Sr do blog.
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