Maquineta Adoração dos Pastores
(autor desconhecido, finais do século XIX)
Museu Nacional de Arqueologia
Assim
vista, parece pequena. Na verdade, tem quase três metros de altura (ou, mais
precisamente, 2,61 metros). Não é um presépio barroco, vindo da oficina de um
António Ferreira ou de um Machado de Castro. Nem é um presépio como aqueles que
podemos admirar na Basílica da Estrela, no Museu de Arte Antiga, na Sé de
Lisboa. É a «Maquineta Adoração dos Pastores», do século XIX, que por acaso
encontrei à entrada do Museu Nacional de Arqueologia. Parece uma casa de
bonecas. Menos opulenta, decerto, do que a casa de bonecas – a mais espantosa
que vi – existente no Castelo de Windsor. Mas esta Adoração dos Pastores é tão
bela na sua simplicidade ingénua, na rudeza das suas figuras de barro, tão
natalícia e portuguesa que vale mesmo a pena vê-la de perto. Perder-se na
contemplação das formas, levar os olhos até ao fundo da cena que diante de nós
se desvenda, sob a forma de um castelo muralhado. Como sucede nestes presépios,
a coreografia das peças de terracota, algumas das quais vindas de uma olaria outrora
existente na Calçada da Bica Pequena, obedece a uma organização tridimensional,
observável de diferentes ângulos, num jogo em que os olhos ora se perdem nos
elementos arquitectónicos em cartão, ora buscam a Sagrada Família, perdida no
meio de tanta decoração – são 110 figuras, nem mais, nem menos, envoltas em cortiça, latão, pergaminho, ramos de arbustos, musgo, tecido, conchas, plantas secas. Um presente de
Natal, a dois passos de si, com um brinde suplementar: basta entrar no Museu e
olhar a Adoração dos Pastores, exposta logo à direita, no átrio. A custo zero,
portanto, uma maravilha que nem todos conhecem – e, só por isso, merece que se
fale dela.
Bom Natal.
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