René Char
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27-VIII
Cérest sem René Char
Fomos
até Cérest, aldeola numa encosta do Vaucluse, pátria de René Char, mas não
encontrei nada que evocasse o famoso poeta hermético das Folhas de Hypnos, o amigo íntimo de Camus, o resistente que chefiou
um maquis em luta armada contra os
ocupantes nazis. Nada, nem uma placa, nem um a rua com o seu nome, nem um
qualquer monumento que assinalasse a origem dele neste obscuro recanto
provençal, aliás pouco atraente. Em termos de Guia Michelin, até se podia dizer que esta terra não “vale um
desvio”: uma igrejola medíocre, dois ou três cafés banais com esplanadas
semelhantes a todos os demais neste país, um quiosque de jornais, umas ruelas
sem nada de curioso, árvores também comuns, em suma, um pequeno nada trivial
que não merecia uma visita e, sobretudo, não honra o nome do grande poeta
surrealista e hermético aqui nascido em 1907. É verdade que não sou um leitor
entusiasta dos poemas de Char, até porque sempre lhe preferi outros bardos como
Aragon, Verlaine, Baudelaire, Apollinaire, Queneau e até Victor Hugo, este
sobretudo como figura de intelectual oitocentista exilado nas ilhas normandas
para protestar contra a ditadura de Napoleão
o Pequeno. Também é certo que, admirando muito a enigmática poesia de Celan
ou até de Trakl, já não me fascinam os hermetismos concisos do antigo
surrealista Char. Por fim, sendo toda a Provença um tesouro de pequenas
maravilhas sob a forma de aldeias, paisagens, fontes e recantos arborizados,
esta aldeola de Cérest faz-me a impressão duma espécie de Reboleira meridional.
Conviria também alegar que, para mim, a literatura da provençal é sobretudo
feita de romancistas como Daudet, Pagnol, Giono e poucos mais, o que deixa o
poeta de Fureur et Mystère à margem
das minhas leituras mais favoritas.
João Medina
Com os meus cumprimentos, deixo-lhe uma sugestão: referir, sempre, os autores da imagens aqui publicadas, sejam elas fotografias, aguarelas ou outras formas de expressão artística que, perdoe-me a expressão, não caíram do céu.
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