quinta-feira, 15 de março de 2018

Black Dolls, a colecção Deborah Neff.

 
 

 
         A advogada norte-americana Deborah Neff colecciona há mais de vinte anos bonecas negras. Bonecas negras fabricadas nos Estados Unidos de meados do século XIX a meados do século XX. Além de bonecas, e para documentar e perceber o que colecciona, Deborah Neff busca também fotografias de crianças – rapariguinhas, claro, não rapazes – posando com as suas bonecas em álbuns de família.
 
 
 
        Ao fim de duas décadas, pôde concluir que, em regra, as meninas brancas tinham bonecas de meninas negras; por seu turno, as meninas negras tinham, também em regra, bonecas de meninas brancas. Não se trata de dizer, como é óbvio, que as brancas apenas tinham black dolls, como é óbvio (muitas tinham bonecas brancas, evidentemente). Nem se pretende, creio eu, fazer daqui grandes considerações históricas ou sociológicas, mas tão-só colocar hipóteses. O que Deborah Neff afirma é que é plausível que as bonecas negras que as meninas-família brancas tinham eram, muito provavelmente, feitas pelas suas amas negras, cosendo trapos, pedaços de tecido. Quanto às meninas negras, há obscuridades, desde logo porque não existem muitas fotografias de família dos escravos nas plantações. E as imagens que mostram meninas negras com bonecas brancas datam do século XX. E, como é evidente, as famílias negras que eram fotografadas para álbuns pertenciam à pequena ou média burguesia, não aos segmentos mais pobres. Tanta conversa para nada? A coisa complica-se pois existiam «bonecas gémeas» ou «dupla face», que ora apareciam com a tez branca, ora com a tez negra. O facto é que, talvez por via da moda dos estudos pós-coloniais, a colecção de Deborah Neff anda a fazer furor, foi fotografada aqui, na Slate, e encontra-se actualmente em exibição em Paris, na Maison rouge (aqui e notícia no Le Monde, aqui).
 
 
 
 




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