terça-feira, 20 de março de 2018

São Cristóvão pela Europa (62)

 
 
 
 
Basílica de Nossa Senhora da Assunção, Maastricht, 11 de Março de 2018.

Homem de causas, pacifista, poeta e humanista, professor de História da Música, Romain Rolland (1866-1944) foi um escritor francês que se distinguiu no início do Século XX. Foi Prémio Nobel da Literatura em 1915.
Entre 1904 e 1912 escreve o grande romance da sua vida, Jean-Christophe, em 10 volumes.
Jean-Christophe Krafft é um compositor alemão e o livro acompanha-o do nascimento à morte.
No último volume, terminada a agonia de Jean-Christophe, chegado o fim da sua vida, entregue a sua alma ao Criador, o livro conclui com uma invocação de São Cristóvão:
E Cristóvão atravessou o rio. Durante toda a noite, avançou contra a corrente. Tal como um rochedo, o seu corpo de membros atléticos emerge sobre as águas. No seu ombro esquerdo vai a criança, frágil e pesada. E Cristóvão apoia-se num pinheiro arrancado que verga. E o seu torso também verga. Os que o viram partir disseram que nunca chegaria e durante muito tempo foi seguido pelas suas troças e pelos seus risos. Mas depois caiu a noite e eles cansaram-se. Agora Cristóvão encontra-se muito longe para que o alcancem os gritos dos que ficaram na outra margem e por entre o ruído da corrente apenas ouve a voz tranquila da criança, que, com a sua mãozinha segura uma mecha do cabelo revolto na fronte do gigante e repete: Anda! E ele caminha com o dorso curvado, de olhos voltados para a frente, fixos na margem escura, cujas escarpas começam a clarear.
E subitamente ouve-se o coro dos sinos. Eis a nova aurora! Por detrás da falésia que mostra a sua negra fachada, o Sol invisível sobre num céu de ouro. E Cristóvão, prestes a cair, alcança finalmente a margem. E diz à criança:
-Eis-nos chegados! Como és pesada! Criança… quem és tu?
E a criança responde:
-Sou o dia que vai nascer.
 
 
 
José Liberato
 

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