segunda-feira, 19 de março de 2018

Notas sobre A Grande Onda - 29

 
 


29.
 
         Como já foi notado por diversos comentadores, a estrutura de A Grande Onda tem claras semelhanças com a forma como, noutras obras, Katsushika Hokusai dispõe os diversos elementos e organiza a composição relegando o Monte Fuji para um lugar distante, aparentemente secundário; mas, desse modo, acaba por lhe conferir uma maior centralidade.
 
Estranha e paradoxalmente, a força majestosa do vulcão, a sua imperturbável serenidade, parece crescer e agigantar-se enquanto os elementos à sua volta se agitam e movimentam: casas, ondas, seres humanos, até uma roda de um barril em madeira funcionam como túneis que canalizam e encaminham o olhar para a montanha mágica, ao longe.  
 
É o que acontece na Vista do Monte Fuji na Província de Owari (Bishu Fujimigahara, 尾州不二見原), da série Trinta e Seis Vistas do Monte Fuji, descrita  aqui na colecção do Museu Britânico (1937,0710,0.166).
 
Museu Britânico
1937,0710,0.166
 
 
É o que acontece também noutra xilogravura da série Trinta e Seis Vistas do Monte Fuji. Denomina-se Impressão da Loja Mitsui em Shoroga-Sho, Edo (Edo Suruga-cho Mitsui mise ryakuzu 江戸駿河町三井見世略圖), descritaaqui no catálogo do Museu Britânico (1906,1220,0.549).
 
Museu Britânico
1906,1220,0.549
 
  
É o que acontece ainda, mesmo que de forma porventura não tão visível, na xilogravura Templo Hongan-ji em Asakusa, Edo (Toto Asakusa Honganji 東都浅艸本願寺), também pertencente à série Trinta e Seis Vistas do Monte Fuji. Descrição do Museu Britânico, aqui (1937,0710,0.134).
 
As casas, os edifícios, o tonel de madeira, todos desempenham a mesma função das vagas em A Grande Onda: tornar mais presente aquilo que é longínquo.  
 
 
Museu Britânico
1937,0710,0.134
 
 
   
 
  

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